Rígida

Pollyana Siringe
Revista Mormaço
Published in
Jun 13, 2022

Estive aqui muitas vezes e na maioria delas, puxei uma cadeira e fui má. Sento-me, séria e rígida na madeira escura, talvez jacarandá sem delicadezas, assim como eu, que viro a própria, dura, sem vento, flores e raízes, apenas um apoio. Não quero aqui falar das flores que perdi, lembro-me de sempre ter sido rígida, enquanto crescia, protegia meus finos galhos afastando-me das outras árvores, tato inflexível de pequenas mãos atípicas. Sussurro palavras atrozes muitas horas por dia, vivo menos do que erro e quase morro. Meus acertos, grandiosos em vistas alheias e propostas sociais, não preenchem meu sinônimo de tempo: permanência. Esqueço de tudo que não permanece e me lembro de tudo que deveria ter permanecido, um aperto no estômago faz o coração buscar alguma certeza que mantenha sua função. Eu bombeio para minhas partes um sangue desconhecido, frio, não consigo mais voltar.

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Pollyana Siringe
Revista Mormaço

Prêmio Maraã de Poesia 2020. Siringe — Ed. Reformatório 2021. Colaboro nas Revistas Mormaço e Fazia Poesia.