rodoviária

Laize Ricarte
Revista Mormaço
Published in
2 min readJun 8, 2021
Fallen Angels, 1995

toda rodoviária é uma falha no espaço-tempo. tudo é mais devagar e também mais rápido. tudo se atrasa e se adianta. são sempre as mesmas coxinhas frias esperando alguém esfomeado para levá-las a algum lugar que não seja ali. a rodoviária é o não-lugar. é de onde se está sempre partindo ou voltando.

nessas idas e vindas, existe todo tipo de sensação e sentimento. a tristeza por estar indo embora, o alívio por estar partindo, a alegria de estar indo em frente. pode ter também um medo do desconhecido, ou tristeza por estar voltando ao que não se quer de volta.

sempre tem as pessoas que saem pedindo ajuda para voltar para casa, lhes contam uma história triste com o final sempre igual: preciso de ajuda para voltar para minha família. já vi gente conseguir, ajudei quando pude e nesse momento senti alegria, senti que aquela pessoa sentia alegria, mas uma alegria triste. alegria por estar voltando, mesmo que para isso algo tenha que ficar.

nenhuma alegria é de graça, esse é um conhecimento muito caro que a vida dá sem cobrar nada. mas meu pai sempre diz que por vezes aprendemos só olhando. eu olho a estrada ficar turva pela janela, contando os pedágios e reparando quando tudo volta a ser concreto e janelas. estou de volta, mas até quando?

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