Sabiá lá na gaiola

Silvia Haueisen
Revista Mormaço
Published in
2 min readOct 3, 2022

Há algumas noites, sonhei que a minha vó me dizia que tinha um medo danado daquela canção de ninar que diz “sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou…”

Ela sempre cantava essa música pra mim na hora de dormir. No sonho, eu segurava as mãos dela de um jeito firme e delicado e dizia que não era necessário ter medo. Nós iríamos cantar juntas, bem devagar.

Eu começo então a cantarolar as primeiras palavras e ela me acompanha com a voz trêmula. Eu começo a chorar. Ela chora junto.

Minha vó é espontânea. Uma pessoa do tipo que não para quieta, faz de tudo um pouco. Vive a aventura em tudo.

Aventura, para mim, tem cheiro de naftalina.
Coisa que fica guardada na gaveta de madeira do armário.
Coisa que tem cheiro marcante.
Sempre que abro o armário, lembro que está lá.
Não se vai.
Não abrimos mão dos nossos pertences valiosos.
Mas é preciso tirá-los da gaveta para uso.

Agora pego a aventura pelas mãos. Delicada e firmemente. Ouço o recado de que não é preciso temer. Posso cantar junto do medo. Logo ele se esvai e fica só o sentir.

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Silvia Haueisen
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Escrevo sobre o que pulsa 🍀 Pesquiso sobre criatividade e sou autora da disciplina de Empreendedorismo Criativo