se deparar com uma placa de não ultrapasse e desobedecer
às três da tarde de uma quinta-feira
um dia tonto por completo
atravessados no tapete da sala
foi quando notamos que entrelaçados nos tornamos atravessáveis
e que estarmos experimentando esta época juntos
é a única coisa que nos une
enquanto criaturas de tornozelos instáveis.
depois desse dia, nunca mais nos sentimos tão intranspassáveis quanto antes, porque algumas coisas passam para dizer que ao atravessar alguma coisa, não basta olhar para os lados, é melhor olhar também o chão onde se pisa
e o sol adentrando através de todas as falhas.
lembro de quando fui uma menina
incapaz de ir em braçadas de uma margem à outra e assim vencer uma aposta feita entre encantados.
pela derrota, me deram sete anos de azar e disseram que um dia
eu atravessaria um coração.
sabia que atravessar um coração é tão difícil quanto atravessar uma nuvem?
você precisa da capacidade de travessia de um avião.
no momento em que soube disso, quis abrir uma cratera em seu peito
chegar dentro
e de lá gritar
perguntando se de lá
você me ouvia.
naquela quinta-feira, quando soubemos
que dos buracos podemos esperar somente a dificuldade de acreditar
que todos os dias os caminhos se abrem
aconteceu o que nunca esqueço:
você disse que me ouvia
e que para atravessar um coração
você só precisa de um grito que venha do seu lado de dentro
e de um verão na cabeça.
depois disso, o laço dá um nó.
