(sem título) I.
Posso viver na edificação do que me salvará
Dum abismo em vista
Sobrevoando e ecoando no tempo
As palavras das poesias
Que irrompem fracas
Marolentas, que logo se desfazem
Faltando-lhes o poder da impressão
Nos homens que me sustentam?
Vivo no tocante a eles
Eu mesmo não existo, apenas existo
Quando neles admito
O meu subsídio de sentido
Se edifico as palavras em versos
Quem as sentiria para além de mim?
Convulsionado instante dum fim
Sem recomeços
Mergulho nos homens e desapareço
Simples, aquoso, desistente
Sou no que são, a solidão…
A desconheço, nunca estou só
Na vida do amor
Sigo submerso nas palavras alheias
E expando-as nas carências
Edificando ao vácuo
Da alma oca que não preenche o corpo
Deixando-me solto
Como um artista que já foi
Muito cedo…