sobre despedidas
me peguei cá pensando (até aqui alguma novidade?) no porquê é tão difícil esse pedaço dos encontros a que se dá o nome despedida.
repare se tem sentido: despida e logo após despedida.
é de se injuriar a desordem dos acontecimentos. como tomar um susto e não ser confortada depois.
adio a despedida como quem corre da forca.
tudo pra poder me demorar ali onde na verdade nem sei como fui parar. e acho que é por isso. corta a onda do desfrute e o tempo não espera o tal do deleite. logo já é hora de estar “em condições”. a gente cresce então aprendendo que é preciso se agarrar nos agoras.
mesmo porque o depois já envolve mais uma série de fantasias e, consequentemente, frustrações. e das duas nenhuma enche barriga.
tampouco coração.
veja bem, né que seja de todo mal a despedida. na marra a gente também aprende que são necessárias.
imposição de uma nova invenção.
é o que dizem as românticos, mas calejadas.
é que elas são tantas que me pego embaralhada entre o que é de fato o início, o meio e o fim das coisas.
descontinuidades.
de todos os cantos de coração que já habitei, posso me dizer acumuladora de bordas derrapantes.
sempre preferi os cantos e as suas garantias de que haveriam as beiradas pra me segurar. o centro sempre me foi confuso demais. aglomerado. cada qual ali se amontoando pra esconder seus pânicos.
parecer interessante exigia o pique prum carnaval inteiro. coisa que eu não tinha.
hoje eu rio porque minhas lágrimas protestaram o mal uso que tenho feito delas.
emocionada.
já experimentou a vertigem que dá tentar dançar dentro do eixo? eu sei que cê não sabe o que é isso. também não fui eu quem criei.
e eu só tento parecer ser o lugar que eu mais frequento.
percebeu como eu fujo das despedidas?
essa é uma prosa em que toda gente, em qualquer canto do mundo, tem um buraco pra remendar.
e veja só como é frouxa a despedida.
antes seduz se dizendo encontro, só pra degustar uns arrepios.
e no literalmente fim das contas,
o after não passa das duas e mesmas caras mais limpas cheirando os próprios perfumes.
já despistados pelo suor de outrem.
mas não se nega um frete com as próprias entranhas.
quando chega é inadiável.
nem adianta se a barriga doeu, se a ressaca bateu, se o passado apareceu.
me permita denunciar então a indecisão desse ato.
paradoxalmente, é o movimento mais estático.
obrigando a partir pra lidar com o que fica.
ou melhor, com quem.
assim sendo,
pela inconsistência da lógica,
se despedir é se encontrar.