Urutau I e II
I
a criatura noturna
bateu asas na sacada
da minha janela,
seu canto pálido
ecoou o desatino
que persegue todas
as criaturas pantaneiras
esquecidas do sol
ou que dele se apotrefaram
em marmoreio roído
até virar pó.
entre o dia e a noite
acordei com o seu grito
estridente,
porém abafado da cera
que já não me fazia escutar
querelas de solidão.
era a morte.
eu que tinha sono,
cedi.
II
aceitei que me levasse
debaixo de suas asas fúnebres,
as quais agora me pertenciam
envolventes.
meus dedos, antes em brasa,
neste abraço,
se teceram em gris
e da minha garganta
se fez surgir o som
gutural que ante
sina ou destino,
praguejei ao infinito
no misterioso breu do pantanal
para onde retornei
e nunca deveria ter saído.
Ilustrações:
André Oliveira / Aracruz, ES — Brasil
Email: contato@andreoliveira.com
Site: andreoliveira.com