VIVA A LIVRARIA
Era vinte e três de abril, tarde de outono, sol quente, meio dia. Ela andava e o suor escorria pela testa. Levantou os braços e olhou o relógio, ainda tinha quarenta minutos. Observou a sua volta, sabia que dois quarteirões a frente havia a praça, poderia sentar em algum banco e esperar, como também poderia virar à direita e aguardar enquanto tomava um sorvete. Lembrou que não tinha dinheiro e começou a arrastar seus pés até a praça. Em frente a Caixa Econômica Federal, do outro lado da rua, com uma fachada marrom e apagada, havia escrito: compramos livros usados. Decidiu atravessar para ver o que havia na vitrine. Alguns livros pouco conhecidos, uns novos, outros usados. Olhou novamente o relógio e entrou na livraria.
Em cima do balcão estava debruçada uma menina, escrevia algo em uma cartolina e conversava com o gato que, sentado em cima de uma montanha de livros, olhava fixamente para ela. Um pouco intimidada, ela passou os olhos pelas prateleiras. A estante intitulada Brasil era a maior, preenchia a parede esquerda inteira, a Europa e a América dividiam a parede oposta, separados pela estante de vidro, onde, em sua frente, havia a menina debruçada, a parede direita estava a Oceania, Ásia e África, no centro, duas mesas de centro, três sofás e algumas poltronas. Ela começou a observar calmamente os livros nas prateiras da África. Plaquinhas separavam os títulos por gênero. Ela não entendia muito bem os nomes.
— Eles estão em ordem alfabética dos nomes dos autores. — Ela olhou em direção a menina. — Eles estão em ordem alfabética dos nomes dos autores. — a menina repetiu, e completou: — Eu organizei assim porque fica mais fácil de reconhecer os livros.
Ela olhou para a estante e percebeu nomes esquisitos.
— Aqui eu tenho livros de várias línguas. Se você procura por algum com nome ou língua que não esteja ai, eu posso procurar ele para você. Talvez eu não o tenha a pronta entrega, porém isso não me impede de procurar em outros lugares.
Ela ficou um tempo olhando os nomes estranhos. Ouviu um miado e olhou para baixo, o gato a observava.
— Esse é o Pudim. Se você tiver alguma dúvida sobre o título ou sinopse pode me perguntar. Ou abrir os livros. Na primeira página de cada um deles tem uma folha com o título e a sinopse em português e inglês.
Ela observava as línguas diferentes e perguntava-se o que significam, não queria abri-los.
— Você fala cada uma dessas línguas?
A menina riu.
- Claro que não, são muitas e ainda não tive tempo de aprender todas. Os livros com línguas muito diferente são importados de amigos que moram em outras países.
— Por que você vende todas essas línguas?
Abrindo um sorriso, a menina respondeu:
— Estes livros não são só para vender. Tem muito mais coisa por trás que a troca de verdinhos, sabe? Mas não se preocupe, se você comprar a versão em oromo eu tenho a versão em inglês na forma digital.