Itans e o compartilhamento de saberes ancestrais

Ana Karoline de Oliveira
RevistaNgunzo
Published in
2 min readMay 25, 2021

Compartilhados oralmente, os itans são saberes ancestrais relacionados aos orixás. Com eles aprendemos histórias que poderiam estar perdidas, mas que seguem vivas em várias comunidades e que a tradição oral ajuda a permanecer até os dias atuais.

Através deles aprendemos com o exemplo de nossos ancestrais, suas grandes vitórias e suas batalhas, a sermos pessoas mais comprometidas conosco, com nossa espiritualidade e com nossa comunidade. Aprendemos também o valor da palavra e da oralidade no nosso processo de educação, o axé da palavra.

“Quando tudo estava feito e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de Iemanjá, Obatalá, respondendo diretamente às ordens de Olorum, criou o ser humano. E o ser humano povoou a Terra. E os orixás pelos humanos foram celebrados.”

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Em nossa comunidade, Teatro na Porta de Casa, estamos tendo a oportunidade de compartilhar os itans e fazer reflexões diárias sobre os saberes que estão aqui antes de nós. Pode apenas parecer uma tarefa simples de passar um texto, mas as palavras presentes em cada itan contém um poder de elucidar diversas formas de sobrevivência vividas por nossos ancestrais.

Durante esse processo, acredito estamos aprendendo como lidar com situações que podem ir das escolhas que fazemos sobre nossos caminhos a seguir, questões relacionadas ao autocuidado, nossa alimentação, além dos saberes cotidianos relacionados à nossa saúde como um todo, que muitas vezes foram apagadas pela colonização, mas que com a educação proposta pelos itans, são resgatadas cotidianamente.

Não digo também que pode parecer uma tarefa muito fácil. Lidar com as mudanças e as sabedorias ancestrais também tem seu peso, pois lidam diretamente com pontos que muitas vezes não estamos preparados para enfrentar. Isso vale para mim. Um exemplo, que também temos vivenciado, é a própria experiência de compartilhar nossos sentimentos pessoais, nossas reflexões internas na comunidade. Pode parecer “simples” de um determinado ponto vista, mas a mente colonizada cria barreiras emocionais fortes. Contudo, é nesse processo do conhecimento ancestral que vamos lidando diariamente com essa e outras tantas questões.

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