O retorno a nossa origem através da arte

Nos pegamos sempre no dilema: a vida imita a arte ou a arte imita a vida?
A representação do cotidiano no teatro é tão conhecido como o nascer do sol, mas, que tipo de teatro conhecemos? Quais vidas que a arte imita, ou melhor, sobre quais vidas a arte quer imitar?

É certo que aprendemos a prática teatral por uma visão europeia, mas, as pessoas negras precisam ter representação no teatro. Quando falo de representação, não falo só de personagens negros vivendo em um sistema branco. O aprofundamento tem que vir pela ancestralidade, pelo conhecimento da nossa história e dos nossos costumes. O caminho para nossa emancipação artística é e sempre tem que ser a educação.

A recuperação da nossa história é uma ação não muito fácil, como todo processo de reeducação: precisamos do costume, do conhecimento e da prática para que assim fiquemos confortáveis. Um dos caminhos para isso é através de espiritualidade.

Não temos como falar de práticas teatrais africanas sem falar sobre crenças. A representação teatral africana se dava muito antes da definição do termo “teatro”, se partirmos pela definição de teatro como função social. A contação de histórias, a representação urbana dos deuses e orixás africanos acontecia para manter a história do povo em sua memória. Em vilarejos, o povo se reunia para educar seu povo.

Para sermos específicos no texto de hoje: é necessário a recuperação do teatro africano. Precisamos nos desprender dessas amarras de teatro grego, de entretenimento e educar os nossos através da nossa arte, da nossa representação e da nossa espiritualidade. Você pode não ter alguma crença, mas é necessário entender que uma das bases do povo africano é a fé. Todas as nossas riquezas, materiais e intelectuais, partem da fé. A nossa representação precisa ser base para o regresso, o retorno do nosso povo a nós mesmos. O teatro pan-africanista é educação, é religião e a união do nosso povo de volta para o berço da África.