Onde estão as nossas revoluções?

Lucas Limeira
RevistaNgunzo
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2 min readAug 14, 2021

Onde estão as nossas revoluções? Se o racismo ainda nos mata diariamente, nos viola e nos escraviza — onde estão as nossas revoluções? A história dos nossos ancestrais não começa com a escravidão, ela foi interrompida pela escravidão e quando isso aconteceu eles não mediram esforços para lutar pela liberdade. Infelizmente desaprendemos a lutar. Todos os dias enfrentamos diferentes formas de violência contra os nossos corpos pretos e mesmo assim parecemos não fazer nada.

João Cândido, chamado de “Almirante Negro”
João Cândido, chamado de “Almirante Negro”

Em 1910, nos dias 22 a 27 de novembro aconteceu no Brasil a Revolta da Chibata. No Rio de Janeiro, a marinha do Brasil passou por muitas agitações devido a revolta. Interessante observarmos que essa revolta aconteceu após a abolição. Sendo a maioria homens negros recém libertos, os marinheiros vivam em condições desumanas de trabalho. Salários baixíssimos, rotina árdua e chicotadas eram algumas das crueldades que aconteciam com aqueles trabalhadores. Já cansados de tanta violência, deram início ao levante após presenciarem o assassinato do marujo Marcelino Rodrigues Menezes, que ao ser castigado levou 250 chibatadas e desmaiou. O restante da história a maioria já conhece e não estou aqui para recontar, mas sim para questionar a nossa postura nos dias atuais, e começo as críticas por minha postura.

Nossos problemas estão longe de serem resolvidos, muitas coisas estão caminhando para o passado e o que estou fazendo? Só acontece alguma movimentação quando algum caso vira notícia, porque todos os dias nossos corpos são cruelmente violentados e mesmo assim não fazemos nada e quando queremos fazer é de forma individual, é sem organização. Um povo não prospera e nem vence guerras sem organização, sem seu povo. Precisamos acordar e criar coragem para dar continuidade ao legado dos nossos ancestrais. Volto a perguntar, onde estão nossas revoluções? Já não sabemos nem nos indignar, todo o ódio acaba com 24 horas junto com os stories do instagram. Infelizmente desaprendemos a lutar.

Precisamos aprender a lutar e não se acomodar. Estamos acomodados com as migalhas dos brancos ao ponto de não fazermos nada por nós… Sair do sofá e se organizar, é algo mais do que exigente.

Texto de Conceição Soares

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Lucas Limeira
RevistaNgunzo

Ator, membro fundador do grupo Teatro na Porta de Casa e da Revista Ngunzo