POR QUE NGUNZO?

Chicoerik
RevistaNgunzo
Published in
2 min readApr 2, 2021

Cada vez que eu caía, cada vez que eu caía
Da minha luta eu recordava
Capoeira é arma forte quando aqui não diz mais nada
Apesar de tanta dor, esse mundo tem valor
Salve tateto Mukumbi, Kaiongô quem me mandou, camaradinha. (CAPOEIRA É ARMA FORTE- Grupo Nzinga).

Quando pensamos em nomes para dar a algo sempre vêm em nossa mente diversas imagens ou palavras e, às vezes, até nenhuma. Nomear algo é colocar naquilo que você nomeia um significado, uma existência. Quando pensamos em Ngunzo, várias existências vieram junto com esse nome e uma força coletiva também. Ngunzo é uma palavra que faz parte da compreensão de mundo dos povos Bantus, grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsaariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes, que significa poder ou força vital. Ngunzo é poder de realização e força que faz com que os muntu (seres humanos) expressem sua força vital na comunidade em que está inserido. Os povos bantus foram um dos primeiros povos a resistiram a colonização em África e os primeiros a serem saqueados e trazidos para o Brasil. Suas raízes sobrevivem até hoje em diversas manifestações culturais e espirituais no Brasil, como a Capoeira Angola, Candomblé Angola, Maracatu, bumba meu boi, reisado, enfim.

Mas por que Ngunzo? A ladainha que está no início desse texto é uma cantiga que nos ensina que apesar de tudo, devemos continuar lutando e compreendendo que no mundo ainda há valor e louvemos nossos ancestrais pela força que nos dão. Assim como essa ladainha, Ngunzo é a afirmação da busca por autonomia e fortalecimento de nossa comunidade, é a continuidade daqueles que vieram antes e que permanecem em nós.

Escolhemos Ngunzo para falar sobre os nossos por meio de nós numa perspectiva de coletividade e unidade, pois assim como os povos bantus alçaram sua unidade cultural dentro da diferença, e também os povos keméticos na unificação de Kemet, assim também acreditamos no panafricanismo como via de unificação e luta por nossa autonomia política, econômica, cultura, espiritual e científica. Por isso, A revista Ngunzo é necessária para falarmos de onde estamos, ou seja, do CEARÁ, e nosso objetivo é a veiculação de textos e ações que tenham como base nossa ancestralidade.

Nossas publicações terão como objetivo tratar sobre a arte, cultura e espiritualidade afrikana em perspectiva panafricana e afrocentrada. Até lá vamos explicando mais através de nossos textos. Aguardem!

Ngunzo!

--

--

Chicoerik
RevistaNgunzo

Panafricanista, filósofo e integrante da revista Ngunzo do grupo Teatro Na Porta de Casa.