É preciso falar sobre aborto numa perspectiva africana

Gabriella' Iyabo Kokumo
revistaokoto
Published in
3 min readFeb 14, 2023

O feminismo vende a ideia do aborto como algo ligado à liberdade da mulher. “Meu corpo, minhas regras”… Se escondem atrás da ideia de que defendem apenas a descriminalização do aborto. Realmente, se fossem caçar cada mulher que abortasse, até minha avó estaria presa, junto com amigas, parentes, fora outras tantas mulheres negras que arriscam a própria vida, por não quererem parir por seus diversos motivos.

A questão não é apontar o dedo na cara de ninguém. O lance aqui é alertar, não apenas sobre os riscos de saúde, mas também nos impactos em gerações de famílias em que mulheres negras abortam, ou também quando crianças negras são mortas em ventres brancos. Para quem acredita que os espíritos retornam à Terra, essa marca negativa é ainda maior. E isso tem mais a ver com espiritualidade africana do que moralidade cristã.

É preciso se atentar ao custo espiritual do aborto, que é negligenciado pelas ‘yurugus fêmeas’ , até porque a cultura branca é uma cultura do descarte, da morte. E pior, para justificar a pauta delas, se aproveitam do sofrimento de mulheres negras escravizadas que abortaram para que seus filhos não nascessem escravos.

Se você vai pesquisar motivos pelos quais mulheres abortam, tem lá a falta de condições para o sustento, ter que escolher entre trabalho e ser mãe, gravidez indesejada, além dos casos por estupro. Associam os índices do que chamam de desenvolvimento ao nível de abertura do país para o aborto. Mas por que será que legislação referente a aborto é atrelada à visão de progresso e até de “bem estar feminino” ? Porque independente de qual cor seja pintado o feminismo, ele é originalmente europeu, suas referências são o mundo branco.

Se liguem nesses movimentos de esquerda, tipo Marcha Mundial das Mulheres e outros coletivos feministas. Ficam utilizando os dados de que mulheres negras são as que mais morrem e mais sofrem com a precariedade dos métodos abortivos clandestinos. Pegam um problema real e indicam soluções ilusórias, importadas das brank as. Ficam exigindo do Estado que respeite os ‘direitos reprodutivos’ das mulheres, que não deixem as mulheres negras morrerem à míngua, etc etc.

Parece que nessa hora esquecem até do slogan do ‘racismo estrutural’ que tanto propagam. Vcs acham mesmo que dá pra esperar solução de instituição racista proposta por movimento de gente branca para problemas do povo preto?
Interromper a vinda de um antepassado ou ainda de um ancestral é muito grave. Podemos ter limitações para tratar de temas tão delicados, como aborto. Mas precisamos nos encarar enquanto povo. E respostas estão (estiveram e estarão) em nossa comunidade.

Viver em comunidade preta de referência africana não significa não ter problemas, mas sim que a busca pelo entendimento e impacto desses problemas e a busca por soluções não estão em outros povos, senão na gente mesmo.

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