Ọnà

Bàbálóore Ọmọwale Apókan Òkòtó
revistaokoto
Published in
3 min readMar 22, 2022

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Ilustração: Izaias Oliveira

A galera tá sempre nessa de pedir que as divindades os ilumine e os oriente para e pelo melhor Caminho a seguir. Normal pedir isso. Normal e necessário clamar pela energia daqueles em quem acreditamos. Isso também é culto, louvação, ritual. Isso também alimenta aos que precisam ser alimentados para que, nesse ciclo, o àṣẹ circule, se transmita, se renove e nos alimente de volta.

Mas é preciso sair desse lugar de eterna demanda. Essa forma de culto, embora importante, não é suficiente. Nosso esforço, trabalho e busca também fazem parte do processo. Pedir luz e orientação é demandar Caminho. Mas o Caminho precisa ser buscado e precisar ser alimentado. A gente alimenta o Caminho andando por ele e trabalhando nele.

Foto: Bàbálóore Apókan

Em um dos Ìtàn que versam sobre a criação do mundo na perspectiva Yorùbá, Ọbàtálá foi designado para criar o Ayé. Mas antes lhe foi recomendado realizar um ẹbọ pra Èṣù. Ao passo que Ọbàtálá julgou a urgência da realização da tarefa que foi lhe incumbida por Olódùmarè maior que a necessidade em agradar Olónà, as coisas não saíram bem como ele, Ọbàtálá, pretendia. No percurso em direção ao ponto que deveria iniciar seu trabalho, Èṣù, sentindo-se negligenciado, foi esticando cada vez mais o Caminho e puxando o Sol para cada vez mais perto de Ọbàtálá que, a cada passo, ficava cada vez mais exausto e ávido por algo que lhe matasse a sede. Ao se depar um Igi-ọpẹ, palmeira do dendezeiro, fincou seu Ọ̀páṣoro no tronco da árvore que começou a jorrar o vinho da palma. Ọbàtálá, seco que estava, se fartou de tomar aquele líquido que lhe descia de forma tão refrescando naquele momento. Porém, o vinho da palma é um interdito, um ewọ de Ọbàtálá. E rapidamente ele ficou embriagado e não conseguir cumprir a tarefa tão cara passada polo Olódùmarè.

Esse Ìtàn continua com outros desenrolos e trazendo vários outro ensinamentos. Mas nesse ponto já temos um boa ilustração do que está sendo falado aqui. Se nem Ọbàtálá foi poupado por não ter alimentado o Caminho, como poderíamos pensar que nossa displicência seria considerada.

O Caminho deve ser o meio que te levará ao seu objetivo final. O Caminho deve ser sua ferramenta de alcance ao propósito. Mas ele só se torna esse meio e essa ferramenta a partir do momento em que saímos desse lugar de passividade e espera. A partir daí, o Caminho acontece e tudo o que é preciso acontecer, acontece no Caminho. Quando você busca pelo Caminho e por consequência o alimenta, ele vai te retribuir. Laróyè!!

O Caminho trás o encontro, a luz, a visão, a experiência, a oportunidade, o prazer, o riso, o aprendizado, o abraço, a fé, o cheiro e o gosto, o dinheiro, o amparo, a acolhida, a saúde. O àṣẹ!

Busque o caminho. Alimente-o por consequência. Como sempre falamos, a gente tem de Èṣù à medida do que a gente dá a Èṣù. O Senhor do Caminho é Èṣù. Olónà. O próprio Caminho é Èṣù. Ọnà! Laróyè!

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