A benção, a bezenção, a cura…

Juliete Vitorino
revistaokoto
Published in
3 min readFeb 25, 2021

Aqui no bairro onde eu moro, nós temos um grupo de Facebook e sempre que aparece uma postagem sobre procura por benzedeira, vira uma verdadeira guerra santa.

Pessoas que nunca se afetam em dar um up quando alguém faz um post publicando seus negócios ou pedindo ajuda para algo, se afeta sobremaneira quando alguém pede indicação de uma pessoa que benza.

É o típico comportamento cristão de que quando eu posso eu não ajudo, mas se eu posso atrapalhar: porque não fazê-lo?

Porque eles acreditam piamente que o cristianismo é o único caminho e a verdade para as pessoas terem vida plena.

Coitado deles se existe somente um caminho e uma verdade. Porque se existe não seria a cópia porca e mal feita deles que existe há 2000 anos de coisas incríveis que existem há milhares de anos.

Mas, observando esse comportamento e voltando lá para o grupo do meu bairro, quando surge alguém pedindo a indicação de uma benzedeira, os cristãos se levantam em riste e começam a postar coisas como:

“Procure uma igreja mais próxima de você, só Jesus salva.”

“Isso é coisa do demônio.”

“Procure uma igreja Universal” hahahahaha

Eu queria que fosse mentira, mas infelizmente não é.

E esse comportamento é para tudo que vai de encontro com a lavagem cerebral que foi feita com a massa cinzenta deles.

Ser contrário a benzedeiras e associar isso a coisa do demônio faz parte da demonização de tudo que o cristianismo faz para se colocar nesse patamar de superioridade que ele precisa estar.

Manja aquela pessoa que você conhece que é toda errada na vida e sempre que você aponta um erro dela, ela aponta um erro que ela considera maior de outra pessoa para abafar o erro dela?

O cristianismo é essa pessoa.

Ilustração: Izaias

Mas, vamos aqui para o que viemos.

Diferentemente da medicina ocidental que se preocupa em tratar doenças. As práticas ancestrais de medicina africana entende que o ser humano é holístico, então não existe cura do corpo sem curar o espírito, assim como o contrário também é verdadeiro.

E pensando por esse lado uma benzedeira funciona e funciona muito, trata de forma muito mais profunda as doenças e o melhor, onde somos mestres, ensina a evitar doenças.

Não trabalhamos com cura apenas, trabalhamos com prevenção. Cortamos o mal pela raíz, cuidamos do corpo e do espírito antes ainda que ele adoeça.

Detectamos os riscos que podem adoecer uma comunidade bem antes.

Aliás, isso é uma outra máxima dentro das nossas comunidades. Não existem indivíduos doentes, existe comunidade, mesmo que só um indivíduo esteja apresentando alguns sintomas, toda a comunidade que cerca aquele indivíduo corre o risco de apresentar os mesmo sintomas, por isso não trabalhamos com indivíduos, mas com comunidade.

Quando os yugurus do ponto de vista deles tentam decifrar a benzeção, eles falam que isso ainda perdura desde a idade média porque assim como as pessoas daquele tempo nós somos seres movidos pelo medo ¹.

Primeiro que quando uma pessoa se baseia em idade média como algo muito antigo a gente já sabe o ponto de partida deles. E depois não é porque eles roubaram nossas tecnologias para lidar com os medos deles, que nós também o fazíamos por medo.

Como já citei nesse texto a gente lida com o mundo de forma holística, por isso que dentro da nossa espiritualidade não cabe céu e inferno, nós não lidamos com nossa espiritualidade esperando um ser sagrado vim nos salvar ou ficamos com medo desse ser nos castigar por coisas erradas que fazemos. Pelo contrário, a gente entende que a vida é uma colheita e que temos o livre arbítrio de plantarmos o que quisermos.

Como diz Marimba Ani: “Nossa espiritualidade nos fornece um sistema de símbolos capazes de criar em nós, sentimentos tão energeticamente poderosos, a ponto de nos motivar a fazer coisas especiais. Esses símbolos nos dão a base do compromisso que nos leva à plenitude como pessoas pretas”.

Então, quando trabalhamos nossa espiritualidade, diferente do cristianismo, não o fazemos por medo de irmos para um lugar quente e sermos espetados pela eternidade, mas o fazemos porque isso nos torna pessoas completas e que nos ajudam a viver com plenitude.

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