"A educação é um passaporte para o futuro"

Nonzenzele Nini Ada
revistaokoto
Published in
2 min readMar 18, 2021

Cresci com minha mãe escrevendo nos meus cadernos que “A educação é um passaporte para o futuro”, palavras de Malcolm X. Há poucos anos, enquanto educadora, tive a oportunidade de compreender que a educação é uma arma. Hoje, com outras visões, me moldando por perspectivas Panafricanistas, ainda acho que a educação seja uma arma muito perigosa e poderosa, inclusive.

Malcolm X

Quando me interessei mais por educação e comecei a pesquisar sobre, sempre disse aos alunos que tinha, que estávamos nadando contra a maré, por estarmos buscando o tipo de educação que sempre nos negaram. Hoje, buscando melhor compreensão, entendo que o que fazíamos e agíamos estava exatamente de acordo com o que a sociedade esperava. Pois não estava rompendo barreiras, mas me adequando a estrutura branca e levando várias outras pessoas negras a fazer o mesmo.

A educação branca é mesmo uma arma muito perigosa para nosso povo. Quanto mais a temos, mais nos distanciamos da busca por autonomia e emancipação. No livro “O espírito da intimidade”, Sobonfu Somé nos mostra como os jovens de Burkina Fasso renegam suas tradições quando entram em contato com a educação oferecida pelos europeus. Aqui no Brasil, com todos os projetos e ações empreendidas contra nós, também perdemos contato com o que é nosso. Por isso, precisamos nos reconectar com nossas tradições e forma de nos relacionar, para que tenhamos uma educação que seja poderosa e nos permita abrir mão de todo o processo de embranquecimento que passamos.

Lembro quando objetivei ter um negócio, de como eu falava pra mim mesma que se continuasse trabalhando ‘pros outros’ iria surtar mais e mais. Precisava fazer isso por mim para que eu pudesse financiar meus outros projetos sem ter que me condicionar às regras dos outros. E quanto mais difícil fica, mais sei que esse caminho é o que preciso seguir. E essa educação que minha mãe anotava nos meus cadernos é justamente o tipo de educação que nós, pessoas pretas, precisamos para nos libertar das falácias de ocupar lugares brancos para mudar vidas negras.

A real é que meu novo projeto de mim mesma é “Me reeducar para, então, Educar”. Não posso utilizar de incoerências para seguir com meus desafios. Tenho uma espectadora direta, viva e ativa em minha vida. Que exige de mim, uma educação que seja passaporte para o nosso futuro. Livres e libertos de sermos armas contra os nossos.

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