A importância do autocuidado para os homens pretos

Murilo Vitor
revistaokoto
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2 min readMar 16, 2021
Por Iza Oliveira

Quando você faz parte de uma organização como o Kilûmbu, onde é preciso se desenvolver e estar sempre na contramão de quem não quer evoluir, o cuidado um com o outro deve ser umas das prioridades para que dê certo todos os objetivos traçados.

Cada vez mais estamos atentos a isso, cada vez mais criamos laços familiares com os nossos irmãos e irmãs de treino, de projeto, de caminhada à autonomia.

Eu já não sou aquele homem preto de anos atrás que tinha uma visão diferente da que eu tenho hoje, não era racializado, era muito desinformado, e deixei compromissos, relações mal resolvidas e problemas pro passado.

Achei que enterrando tudo que eu não queria que fizesse parte da minha vida uma hora essas coisas seriam esquecidas e o novo Murilo iria prevalecer.

E tomara que ele prevaleça mesmo, que ele consiga se expressar da melhor forma (preta) possível. E aí meus amigos eu digo que é preciso ter um extremo autocuidado para que essa nova versão almejada prevaleça.

Diante de todas as minhas opções e ações passadas e tantos problemas e paradas mal resolvidas eu entendi que eu não me amava, que me deixava levar por situações que me trouxeram problemas e se eu tivesse um amor próprio seria muito fácil de evitar.

Hoje eu vejo que o autocuidado é uma arma que precisa ser a mais desenvolvida, principalmente para um homem preto. E não estou falando nenhuma novidade, o homem preto é o principal alvo do racismo, vem porrada de tudo quanto é lado.

Hoje estou num processo de me indagar por que não havia esse amor próprio e o que preciso fazer pra ter isso, e são muitas respostas, tem muita coisa pra fazer, tem muita coisa pra mudar ainda, mas hoje o autocuidado é uma das ferramentas que eu mais uso.

Cuido muito melhor do meu templo com uma dieta e hábitos mais saudáveis, estou me analisando mais pra tirar cada dia um punhado de recheio branco que ainda carrego, estou cuidando do meu Ori, da minha energia e principalmente da minha espiritualidade africana. Há diversos meios de se cuidar, estar numa comunidade como o Kilûmbu Òkòtó te dá essa possibilidade, uma vez que nos reconectamos com a cultura preta, com discursos e ações pretas, a agradável oportunidade de estar entre pretos e não só estar, mas conviver com pessoas que têm a mesma pegada que você é maravilhoso, mas ainda assim é preciso ter esse autocuidado, fazer a tua manutenção, de vez em quando até mesmo uma reforma saca?

Se atentem a isso, meditem, conversem com você mesmo, se racializem todos os dias, tenha contato com hábitos africanos, cada vez que você se cuida, você potencializa o sistema operacional preto.

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Murilo Vitor
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Pai do Pietro, da Sophia e da Kalyfa. Filho da dona Ângela e do Seu Marcelo. Morador do Eliza Maria.