A religiosidade pode dificultar o nosso acesso à espiritualidade!

Já parou pra perceber que o preto colonizado/catequizado, quando pega a visão da racialização geralmente fica louco atrás de um terreiro pra fazer parte?

Geralmente essas pessoas, que entenderam o quão problemático é o cristianismo acham que só vão conseguir desenvolver a espiritualidade quando estiverem dentro uma casa. Daí fica naquela de : “ah eu estou procurando um barracão ou um terreiro mas eu não acho” Ou : “aí fulano me indica um livro sobre Umbanda ou sobre candomblé pra eu aprender, e praticar essa religião no meu dia a dia”

Pensa comigo, você entendeu que a estrutura cristã não te abrange e te fere, e vai buscar um formato cristão pra exercer sua espiritualidade africana ? WTF??
É a parada que o Taiwo fala de rodar um app preto em um sistema operacional branco. NÃO VAI FLUIR NEGO! NAO VAI KKKKKK

Você deve estar se perguntando: Mas se eu quero ir pra um terreiro de religião africana, por que isso seria um formato cristão?
Simples, porque você não está considerando buscar a conexão de dentro pra fora!

Você quer achar um terreiro, uma bíblia afrocentrada, qualquer outra coisa que seja mais confortável do que fazer os seus ebós com você mesmo! E o cristianismo leva as pessoas pra esse lugar, de buscar algum salvador que faça o milagre para o pobre, nú, miserável e indigno de graça.
Coitadinho!!

Na espiritualidade preta, africana o buraco é mais embaixo, meu querido! Se tu ficar lá no meio da estrada todo perdido sem catar o ebó de perguntar pra se localizar, você vai ficar lá.
Não adianta tu clamar por misericórdia, pode espernear, chorar …. Não vai passar bom samaritano nenhum, tu tem que fazer o ebó.

E pra gente viver nossa espiritualidade, a gente tem que construir as paradas do início, não adianta querer pular as etapas. A gente tá falando de um reset no seu sistema operacional antigo e uma reinstalação de um novo sistema operacional, não dá pra você amanhã querer já ter função no terreiro e tudo e tal…. Saca?
A gente precisa botar no nosso dia a dia, o ebó. Nas pequenas coisas, mínimas. O Balogum lançou outro dia um texto com uma frase que encaixa muito aqui: “ só se aprende de verdade na prática” e a prática da nossa espiritualidade não pode estar sujeita a algum elemento externo. É ir começando com o que já temos em mãos. O que é fácil e simples antes de chegar ao que é elaborado.

Eu tenho aprendido isso aos pouquinhos, e participar do Itojú Orí tem me ajudado a construir isso dentro da comunidade e com as ferramentas que eu tenho em mim! E são coisas do dia a dia mesmo: você se conhecer, saber quando é a voz da sua intuição e quando é a ansiedade que tá falando. Saber sentir os sinais que seu Orí dá, saber se conectar com o que vem pra você.
É rotina..
Você conhecer seu corpo, e as coisas que fazem bem pra você comer e as que não fazem, você construir os próprios rituais diários, incrementar os Orixás no seu cotidiano...

Isso é exercitar a espiritualidade no dia-a-dia, pega visão!