Acolhimento e Pertencimento

Ligiamatcosta
revistaokoto
Published in
3 min readApr 8, 2021

Como é bom se sentir acolhido e ter a certeza que tu encontrou o seu lugar, se sentir seguro em família…

Sensação que muitos buscam por anos, às vezes a vida toda, mas não alcançaram.

Foi o que encontrei dentro desse Kilûmbu desde quando passei pelo processo do entendendo, as pessoas que conheci experiências relacionadas a espiritualidade, corporeidade o conhecimento do que é nosso, o resgate do orgulho de ser e pertencer, cara são sensações únicas, mas o processo não é fácil chegamos cheios de recheio branco, imposições que não escolhemos, mas tomamos como nossas, por não acreditar que há alternativas, outros caminhos a serem percorridos, experiências a serem vividas.

Vou contar uma experiência que ainda estou vivendo, mas que vem reforçar o que significa o Kilûmbu Òkòtó, pra mim e pra galera como um todo.

Minha família maioria é terrivelmente cristã, cresci nesse meio minha mãe evangélica desde que me conheço por gente rs

E nesse processo de descolonização já era de se prever né? Vários embates, ela vinha com os argumentos e eu por respeito sempre me calei, nunca expûs meu ponto de vista e ela também não era muito afim de ouvir, com isso fomos nos distanciando até que chegou um ponto em que as vezes estávamos de boas e tals, mas era chegar o dia do treino ela não falava, mas ficava chateada, e ficava uns dias sem falar comigo.

Vendo a bandeira RBG, as lives ela achava tudo muito estranho e errado, mas não perguntava nada apenas se fechava e eu na minha assim ficávamos cada vez mais distantes assim íamos vivendo.

Mas aí que tá o problema, com o passar do tempo esse mal estar essa falta de comunicação passou uma impressão pra ela que não estava nem aí pra ela ou não fazia questão da presença dela, eu no piloto automático não percebi até que a bomba explodiu brigamos ela foi embora.

Putz e agora?? ela já doente eu que sempre cuidei dela, fomos sempre nós duas e como assim ir embora??

No começo não quis aceitar fiquei com raiva de todos, foi aí que num sábado cheguei pra treinar, mas não tinha condições cabeça a mil, o Taiwo veio trocar uma ideia comigo palavras que vou levar pra vida…

Estava numa encruzilhada e tinha que escolher entre deixar de lado a raiva a briga com meus familiares e ir atrás da minha mãe e falar com ela, ter uma conversa franca que apesar das nossas diferenças tínhamos que nos respeitar e nos apoiar, ou me fechar dentro da minha razão e deixar pra lá, seguir minha vida eles que lutem.

Quando alguém dá uma de louco o negócio se fazer de mais louco ainda, reverter a situação, a nosso favor nos colocar de forma que a gente possa administrar, tudo só depende da gente. Certo ou errado tem que agir de alguma forma.

Quem não se posiciona, não age, não opina, outros tomam as decisões por você e, nessa altura tu não pode reclamar, tem arcar com as consequências, seguir a cartilha que foi feita por outro.

Pois bem, passaram quatro dias tomei minha decisão, o caminho a seguir fui até ela me abri, apesar das nossas diferenças nos completamos e sempre fomos nós, precisamos ficar juntas assim como a respeitava, pedi respeito, ela nada disse, só ouviu e assim voltou comigo pra casa.

Tive com ela depois dessa conversa, só mais dois dias foram os dois dias que ficamos mais próximas, a última noite quase não dormimos, ela já estava muito debilitada, mas entre um cochilo e outro, via ela sentada na cama me olhando como se estivesse se despedindo. Cuidei até o último dia, fui a última a vê- la com vida.

Na manhã seguinte ela foi, mas dessa vez pra não voltar… Ainda tô processando essa perda, mas aquela conversa e vários outros papos de visão me deram um norte do que deveria ser feito, o apoio dessa galera sem palavras, pois é para surpresa de muitos, não vivemos só de deboche.

Aqui no Kilûmbu Òkòtó é família é união, é nós por nós, vividos realmente.

Por fim, se amem, se beijem, vivam a cada instante, e se respeitem apesar das diferenças.

Diante das encruzilhadas tomem uma posição nada de ficar em cima do muro, porque quem é omisso não pode reclamar do rumo que as coisas tomam certo ou errado o negócio é viver o hoje.

Ilustração: Izaias Oliveira

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