Amor preto formatado em branco não cura
Aqui no ocidente o amor é construído em cima da romatização.
Isso mesmo, as referências de relacionamento que nos é apresentada a princípio aqui no ocidente é aquela do colonizador — Quem tem como precedente histórico matar, roubar, estuprar e humilhar aqueles que ele vê como ameaça — Tudo isso isso formatado em “amor romântico”.
Para aqueles que tem alguma base de família, em muitas das vezes, essa base nem sempre é construída de maneira sólida para nos sustentar, é aí que entram as mazelas do racismo.
Quando o homem preto consegue se manter vivo, a engrenagem racista do Brasil colônia continuará de olho nele , diga-se de passagem — tentando liquidá-lo. Óbvio, sempre por intermédio da exclusão seja ela pautada em machismo, feminismo, religião e por aí vai.
Apesar de ter muitas críticas com o conceito de estatística, são elas que pipocam por todos os lados nos jogando na cara a realidade desse rolê. Cá pra nós, a gente nem precisa ir muito longe pra se deparar com essas informações.
Na minha família mesmo tem meu Tio Padrinho, meteu bala na cabeça em meados dos anos 90. O filho dele, meu primo na época com 15 anos, ao ver o pai com cabeça estourada não deu conta.
Até hoje, vira e mexe ele é levado para o “xangrilá” mais conhecido como “rede de atenção psicossocial”. Ele já fugiu algumas vezes de lá.
Também tenho outro tio que já se foi, só que esse de “morte morrida” .
Foi fazer uma colonoscopia numa clinica, num dia desses qualquer .
O cara tinha mais de 1.90 m de altura e quase 200 kg. Quando ele dançava parecia levitar. Acho que ele tinha mola nos pés. Entrou vivo e saiu morto. Enfartou lá dentro e não deu tempo de acudir. Virou ancestral.
Já o meu pai, sempre foi visto como aquele cara “diferente” da família. A criação que lhe foi dada , acredito que seja aquela que muitos homens pretos tiveram: nunca saia sem documento, nunca corra da polícia, nem na rua e faça o possível para não chamar muito atenção — mesmo ele tendo uma gargalhada que pode ser ouvida a metrôs de distância (rs).
Já as minhas vivencias são em outro pic ; aquela coisa de ter usado em boa parte da infância toalha na cabeça — pra imitar ter cabelão… ter feito xixi na sala de aula quando estava na primeira série ou na segunda, não lembro ao certo (o racismo apaga nossa memória) . Sei que na época tinha pedido pra ir ao banheiro, mas a professora branca não deixou. Então não teve jeito, escapou ali mesmo.
A inserção da pessoa preta no mundo branco é cruel. É proposto a todo instante que você se desconecte de seu espírito, de sua comunidade. A alienação por parte dos branc@s é imposta goela abaixo. A “romantização” deles dá nisso aí.
Enfim, a vida seguiu o espírito se foi — Mas, uma coisa mantive: Sempre fui encantada pelos homens pretos. E quando percebi estava eu me relacionando com um lindão diga-se passagem!
Começamos até que cedo um “namorico”. Seguimos “a torto e a direita” numa caminhada de aproximadamente 12 anos.
Namorei, noivei e casei, óbvio guiada pela alienação branca do amor romântico, proposta aqui no ocidente.
Eu, na época em disparada pra “vencer na vida” tentando arrastá-lo, e ele tentando apenas sobreviver.
Nesse período houve uma diferença que não fui capaz de perceber; minha passagem pela sociedade era muito maior que a dele — uma vez que posso ser “o portal para a redenção de Can”. Quando me dei conta já era tarde.
Não teve como segurar o pagode. Nossa família, apesar de preta, estava sempre muito distante uma da outra. Nosso círculo de amizade não era o mesmo. Saímos da comunidade comprando a ideia de que poderíamos ser suficiente, um ao outro.
Ledo engano rs. Sobonfu Somé dá o papo em seu livro — O Espírito da Intimidade.
Ela nos conta como é determinante a vida em comunidade, inclusive no que tange ao desentendimentos que um casal pode ter. Sem ajuda da comunidade o fogo de uma relação possivelmente será extinto, ou abafado pelo amor romântico.
Enquanto nós, pessoas pretas tentarmos conduzir nossas relações na base do “amor romântico branco” and incondicional, a possibilidade de dar ruim é grande. Fora que podemos cair naquela falácia que o amor preto (ou Negresco?) salva.
E cá pra nós, não cabe aqui desculpas pra sairmos palmitando por aí. E se você palmitou, lide com os frutos de sua escolha.
Temos sempre que estarmos em alerta pra não perder o “espírito da intimidade” e caso isso aconteça vamos passar uma vida toda em looping correndo atrás do rabo, tipo aqueles ratos de laboratório.