Como 1 dia que se desenvergou em 7

Akínwálé Òkòtó
revistaokoto
Published in
3 min readJan 25, 2023
Vitoria Camilly

Foi assim que nós sentimos o nosso Kwanzaa 22/23 : como 1 dia que se desenvergou em 7 dias.

Se, por outro ângulo, ao reviver as muitas rodas de capoeira, as rodas de sambas, os sambas de roda ou de terreiro, os cortejos e ensaios de maracatu, as várias oficinas de boxe, de ritmo, de jiu-jitsu; de bloco de samba, de confecção de instrumentos, artes -; as maravilhosas refeições; os shows; as terapias de autocuidado; os sorrisos, os abraços, os beijos, os bate-papos, as mesas, a gastação, a curtição, a zoeira; as libações e reverências ritualizadas; as brincadeiras e os cuidados e atenção com as crianças da casa; as danças; tudo isso em conta, o sentimento é também o de 7 dias que se esticaram em 21 ou 28 dias.

Sim, o sentimento é também de um 1 dia que se espalhou em 28 dias, de tão preenchidos que foram esses 7 dias. E, para muitos de nós, sem intervalo. Preenchidos de sentido, de significado, de força, de amor e de poder preto. Tão vivos quanto cada pessoa preta, adulta e criança, presente. Tão concretos quanto o chão e as colunas do casarão que abriga nosso Kilûmbu. Tão concretos e simbólicos quanto o chão do Cais do Valongo que acolheu a visão e a vontade do Táíwò lá em 2017.

Foram 7 dias plenos de nguzo saba, construídos no correr de 5 anos de vivência determinada em nguzo saba principalmente pelos mais velhos da casa.

O sentimento é de profunda gratidão por ser um, pequeno, nesse bonde grandioso. O bonde que nos proporciona essa experiência de um projeto de educação que se desdobra em vivência de nação.

Pois é preciso viver, cultivar e ritualizar um sentimento de nação preta para construir nação Afrikana. Uma nação unida, orgulhosa, autodeterminada e independente.

Para isso, o entendimento não é suficiente, como ouvimos muito por aqui. Entender não nos leva muito longe. Basta olhar para alguns pretos na Diáspora Afrikana no brasil, por exemplo: há quem entenda, mas falta quem tenha o sentimento, o brio que conduz a fazer. É necessário experimentar, vivenciar e cultivar o sentimento de uma nação preta forte para caminhar na direção da construção e preservação de uma nação preta forte.

Kilûmbu Òkòtó, Kwanzaa 2022–2023, Praça Mauá, Rio de Janeiro.

Entre as muitas emoções e os afetos que foram reacesos sobre a kinara que cada um carrega no peito, ao longo desses 7, 21, 28, ou 364 dias, pra alguns, 1825 dias, um que segue batendo no ritmo quente do coração é o da experiência do que seria e será uma nação preta de pé, genuinamente orgulhosa e sólida. Àṣẹ. Àṣẹ para nós!

Gratidão imensa a esse meu povo lindo pela bela colheita desses 7 dias de Kwanzaa. Um 2023 de colheitas grandiosas para nós!

Àṣẹ o.

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