Cress a Inspiração

Murilo Vitor
revistaokoto
Published in
3 min readFeb 9, 2021
Ilustração de Izaias Oliveira

Cress era uma menina inquieta, super inteligente e sagaz e carregava uma responsabilidade muito além do tempo dela, nem digo a frente da idade de nove anos, mas muito evoluído a ideia de raça.

Digo isso porque Cress já teorizava que o racismo veio pelo temor da raça limitada branca ser extinta pelos primeiros habitantes da terra. Criaram toda uma vivência pautada na destruição e no mínimo um plano B de diminuição dos primeiros habitantes que se tem notícia.

Ela era muito apaixonada pelo pai e eles eram muito próximos. Doutor de muita competência que a inspirava a ser melhor que o homem que mais amava nessa vida. Cress passou os anos seguindo os passos do pai, estudando para ser doutora e obcecada dispunha a maioria das horas do dia para estudar, estudar e estudar e foi num dia despretensioso que ela deu sentido aos seus estudos.

Foi visitar a casa do avô que tivera morrido antes da mesma ter nascido e se aventurando numa brincadeira de porão descobriu uns escritos antigos do avô. De primeira leu e ficou em choque. Parou, leu novamente, e voltou a ficar em choque, dessa vez ela se sentiu instigada e leu novamente, mas dessa vez pegou um caderno e anotou o que lhe convinha. Depois de ler exatamente 19 vezes foi falar com o pai sobre o que havia descoberto. Explicou ao pai que entrou em conexão com o avô que nunca viu porém escreveu muito sobre raça, sobre possibilidades de reação diante a toda supremacia branca, ela já tinha um esboço pra esmiuçar o porquê de todo e qualquer racismo e o avô trouxe uma visão que deu norte para a moça de agora 16 anos compreender o porquẽ surgiu o racismo. E a conversa dessa descoberta foi com a pessoa que mais podia entendê⁻la:

  • Pai, eu sei porque existe racismo.
  • Tô ouvindo. Respondeu o pai de Cress enquanto olhava atentamente para ela.
  • Você me falou um dia que somos os primeiros habitantes da terra. Lembra?
  • Sim. Respondeu o pai já curioso.
  • E aí pai, a gente se relacionava só entre a gente né?
  • Filha errada você não está ,mas preciso certificar o que você está falando.

Foi assim que Cress fez uma tese relacionada a melanina e é óbvio que ela foi ridicularizada por isso, é óbvio que tentaram desincentivá-la mas estava convicta e dedicou ainda mais tempo e energia para sua obra.

Ela nos alertava do perigo que é ser preto, ser retinto e está sujeito ao desaparecimento. De como a gente precisa se proteger e dar continuidade a nossa gente.

Ela defendia que o mais indicado era ter filhos com uns 35 anos, pois estamos mais propício a sermos mais raciais e assim termos a grata e necessária condição de criar nossas crianças e não quer dizer condições financeiras, mas de estar num eixo equilibrado para passar todo conhecimento, exemplo e responsabilidade que uma criança precisa ter.

Ela nos alertou do quão perigoso é o processo de miscigenação.

Nós que buscamos autonomia temos que saudar a Cress, ela tinha uma naturalidade muito admirável em falar dos brancos, se sentia à vontade com a explicitação do racismo, pois conseguia identificar a metros de distância a nocividade branca.

Cress teve muitos amigos que compartilhava da mesma ideia de erradicação da supremacia branca, cada um se dedicava a um viés mais específico pra evidenciar a real supremacia que é a nossa e a todo momento buscando o poder preto. Cress hoje é uma ancestral, não está materialmente mais entre nós e a pouco tempo foi descoberto todo um trabalho de pesquisa secreto que está em mãos dos poucos amigos ainda vivos de Cress, não se sabe exatamente quais e quantos amigos detém esse estudo, porém especula-se que os mesmos estão recrutando novos heróis em busca da total destruição da supremacia branca.

Aguarde os próximos capítulos.

Texto ficcional inspirado na vida e obra da Dr Frances Cress Welsing

--

--

Murilo Vitor
revistaokoto

Pai do Pietro, da Sophia e da Kalyfa. Filho da dona Ângela e do Seu Marcelo. Morador do Eliza Maria.