Crianças: Os nossos ancestrais mais perto
Pensa numa criança se desenvolvendo dentro da própria comunidade, expressando suas manifestações artísticas culturais, sua religiosidade, seu entendimento de Deus de criação de mundo, suas histórias sendo contadas e protagonizadas por pessoas da mesma raça, se desenvolvendo ali entre os seus, crescendo junto da sua raiz civilizatória. Olha o poder que isso traz, quantos traumas, problemas de saúde, problemas mentais que essa criança não vai ter ao longo da sua vida adulta. O benefício é enorme, mais não é fácil, mais quem disse que seria? Parir um bebê não é fácil, preparar um ser humano pro mundo também não poderia ser, mais tudo fica melhor quando você não precisa fazer isso sozinho, como já bem diz no provérbio Afrikano é preciso de uma aldeia inteira pra educar uma criança.
Mesmo que eu não tenha crescido expressando as manifestações culturais, e tudo que é oriundo de África, eu vejo coisas em comum na minha criação que posso ligar a esse provérbio. Eu vivo num terreiro com 7 casas, e vivi a vida sendo criada pelas minhas tias e tios, primos, irmãos e avô. Sou de uma família grande com 17 tios e 57 primos 7 sobrinhos e contando… E glória aos orixás, todos pretos, um primo ou outro que destoa. No meu terreiro quem não obedece os mais velhos a chinela canta, e canta mesmo, e se fosse correr pra contar pra mãe apanhava dela. Que falava “- Não obedeceu sua tia porquê?” Nós pessoas pretas em diáspora criamos nossas crias em compatibilidade com o continente mãe, mesmo sem se da conta disso, mais vejo que com o passar do tempo isso vem se perdendo se embranquecendo, meus sobrinhos que são criados hoje no mesmo quintal que eu fui a 27 anos é um exemplo disso. E por isso é cada vez mais necessário pensarmos no desenvolvimento dessas crianças dentro da sua comunidade exercendo os valores da sua raiz civilizatória, o futuro é ancestral e nossas crianças são os nossos ancestrais mais perto e o nosso futuro mais longe.