Dá para termos nossos? espaços pretos!

Táíwò Òkòtó
revistaokoto
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3 min readAug 26, 2022
Por Tibério O Tibor

Muita gente reza a cartilha de que termos nossos espaços pretos, radicalmente pretos, é difícil. Estão mentindo!

Quisera eu ter chegado no movimento e tivesse aí uns espaços pretos, pretos mesmo, nada integracionistas para eu me envolver e me desenvolver como pessoa preta. Vi, sim, algumas pessoas falando de nacionalismo, de Garvey, de Pan-Africanismo. Mas de concreto mesmo, o que fizeram? O que deixaram? Qual foi o resultado de tanto post, ciclo disso e daquilo, roda de conversa e bate-papo? Qual resultado de tantos livros lidos, escritos, papos dados? Qual o resultado? Qual o resultado visível? Cadê?

“não é tão difícil ser coerente e fazer o que prega o nacionalismo negro e o pan-africanismo”

Pra mim, falar de Pan-Africanismo, afrocentricidade e Nacionalismo Preto sem ao menos conseguir juntar uma dezena de pessoas pretas em uma Organização é como médico fumante, nutricionista que se acaba em fast food e coisas assim. É bem aquela parada do coach que tá lá pra te ensinar a ser bilionário mas sai de corsinha zoado do curso. Tipo o cara lá da Ricardo Eletro que virou coach depois de deixar o negócio à beira da falência. Ou a figurinha que faz tarô dos orixás por uma perspectiva pan-africanista, afrocêntrica, de terapia não sei o que nagô e faz pra branc’o.

Enfim, ou essa galera é desonesta bagarái mesmo ou não sabe do que tá falando. E eu tendo cada vez mais a ficar com a primeira opção.

Por que estou falando isso? Porque fico cada vez mais indignado ao ver que não é tão difícil ser coerente e fazer o que prega o Nacionalismo Negro e o Pan-Africanismo. E isso evidencia o corpo mole da galera. A desonestidade. Vocês falam que não dá pra fazer sem o branc’o, mas o Kilûmbu Òkòtó acaba de lançar dois espaços brabos — o Kilûmbu Malcolm X em São Paulo e o Kilûmbu Marcus Garvey no Rio — sem ajuda do branc’o, sem edital, nem nada. Inclusive, sem ter que fazer média com os próprios pretos/negrescos, sem ter que falar assim ou assado pra fazer fita.

“aqui entendemos que é só da gente mesmo que dependemos”

Fizemos! Metemos! Sem ajuda não só dos branc’os, mas também praticamente sem ajuda de outros pretos que não aqueles do Òkòtó ou os mais próximos, que participam de atividades oferecidas pelo nosso bonde. Sem os branc’os, reduzimos o universo de suporte e contrariamos quem disse que sem branc’os não conseguimos. E mais ousados ainda, reduzimos o universo a apenas nós mesmos e ainda assim conseguimos.

Moral da história é que dá pra fazer. Basta se organizar, basta querer. Quem quer faz. Estamos fazendo. E faremos muito mais! Não descansaremos enquanto não tivermos sedes no Brasil inteiro, no continente e em outros locais da diáspora. Independente de quem não queira, de quem não apoie, de branc’o, de edital, ou o que seja. Porque aqui entendemos que é só da gente mesmo que dependemos. Autonomia é sobre isso. Autodeterminação é sobre isso. Kujichagulia é isso!

Vamo que vamo porque — como minha rapaziada fala — foguete não dá ré.

Um só destino!

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