Das incoerências que nos empurram goela abaixo

A [in]ação de instituições brancas na luta antirracista

Bàbálóore Ọmọwale Apókan Òkòtó
revistaokoto
4 min readApr 19, 2022

--

Por Iza Ananse

Podemos começar esse papo pelo título dos trabalhos citados no topo do folder, os autores das tais moções. Vamos ao primeiro: “Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil”. Houve outro tipo de regime escravagista consistente tal qual foi com os Afrikanos? Por questões políticas e religiosas que não vou aprofundar aqui, o projeto de escravização dos chamados indígenas, pessoas pertences aos povos autóctones desse continente, não foi pra frente e, colocando em proporções, nem se compara ao regime que foi imposto as homens e mulheres Afrikanas nas chamadas Américas.

No segundo: Comissão de Promoção de Igualdade Racial e Homofobia. Qual o sentido prático em se colocar questões raciais em pé de igualdade com as pautas de sexualidade, englobada nesse caso pelo título de homofobia, que não a de apagar a necessidade de atenção que a pauta racial requer? Quando a gente fala de racismo e de homofobia, a gente fala de violência. Mas se a gente olha os números de violência racial e os de violência homofóbica, a proporção é abissal! Aliás, se a análise for feita com honestidade, observando os números, a proporção entre pessoas LGBTQIA+#@$-&Z… pretas e brancas vítimas de violência também é abissal. Logo, antes da violência que atinge homossexuais ser por conta da sua sexualidade, é por conta de sua cor. Então como você trabalha a causa dessas duas forma de opressão de maneira conjunta sem prejudicar a especificidade daquela que ocorre com muito mais incidência que a outra? É tipo aquela divisão do Pica-Pau: 1 pra você, 1 pra mim; 2 pra você, 1, 2 pra mim; 3 pra você, 1, 2, 3 pra mim… Isso é feito com clara intenção não resolver um problema que, a olhos “claros”, não atinge quem propõe a “resolução”. A instituição é branca. O problema da sexualidade atinge os brancos. Há brancos homossexuais ou LGBTQIA+#@$-&Z…, mas não existem brancos pretos, saca? Então não há interesse. Fora que esse monte de recorte só contribui pro enfraquecimento da pauta mais sensível que é o racismo.

Nessa onda, buscando capital político, a OAB, instituição branca, cabeça dessa palhaçada toda, vai promover a entrega de moções para lideranças ou destaques desses grupos a fim de parecer que fazem alguma coisa por pelos mesmos. Mas moção enche barriga, dá emprego, protege da violência, contribui pra saúde preventiva ou fortalece o qualquer tratamento em benefício de homens e mulheres pretas que são grupo mais vulnerável da sociedade? O quanto de recursos recurso arrecadado a OAB usa para suprir a demanda não atendida pela defensoria pública por falta de recurso humano? Paralelamente, a OAB coloca quanto do seu orçamento como ferramenta de celeridade a fim de atender o tanto de preto que é preso injustamente ou de ladrão de lata de leite que é jogado na mesma cela de quem comete homicídio, latrocínio, estupro etc? E até pensando nas pessoas que vão receber alguma dessas moções, sendo bem imediatista e individualista mesmo… Essa moção vai vir com um cheque de 5k junto? Então enfia essa m&rd@ vocês sabem onde!

Desde 2010, ano da instituição do exame unificado da OAB, até 2019, uma média anual de 380.997 pessoas se inscreveram para fazer a prova. Trazendo esse número pra os últimos anos, quando a taxa de inscrição para o exame pratica o valor de R$260, a OAB tem uma arrecadação de R$99.059.220 por ano. São quase 100 milhões de reais por ano apenas com a arrecadação para aplicação das 3 edições anuais do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Fora a cifra na casa de R$116 milhões em receita que teve o Conselho Federal da OAB no ano de 2020. Repetindo… R$116 milhões APENAS do Conselho Federal. Aqui não estão contabilizadas a arrecadação que cada uma dos 27 Conselhos Seccionais obteve (26 estados mais o DF). Pra se ter uma Ideia, a OAB do DF, que representa apenas 3,8% dos advogados ativos e aposentado e estagiários inscritos na OAB, teve um faturamento de R$64 milhões de reais em 2019.

“Ainnnn… Mas existe a advocacia popular onde a OAB tem papel fundamental”. P0rra nenhuma! A OAB tem um papel meramente político no contexto da advocacia popular. A OAB atua na instituição de parcerias entre as iniciativas de advogados e as Defensorias Públicas do Estados e cursos de Direito das Universidades. Não tem 1 real da OAB em nada disso.

Tô colocando esses dados aqui pra vocês terem uma ideia do montante da coisa. O texto não é em tom de reivindicação nem uma cobrança de postura a OAB ou qualquer instituição branca que, sabemos, não tá nem aí pra gente. Tô pautando isso como um questionamento à legitimidade de quaisquer dessas instituições em se dizer antirracista apenas porque promovem palhaçadas como a distribuição de moções.

O pior é que vejo o tanto de preto e preta caindo nesse canto de sereia. Gente, já é 2022. A gente já tá cansado se saber desse joguete. Ou tamo sendo inocente ou tamo confortável com esse afago no ego que não leva nada nosso pra frente.

--

--