Patrice Émery Lumumba — De vendedor à ameaça para os ocidentais

Akinwunmi Bandele
revistaokoto
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4 min readFeb 5, 2021
Ilustração por Izaias Oliveira

Em 1885 na conferência de Berlim, a África foi dividida, o congo era propriedade do Rei belga Leopoldo I. Passaram-se anos de opressão contra o povo congolês que tinham líderes negros, mas com suas políticas controladas pela sua colônia. Haviam diversas crises, o que resultou em movimentos de oposição. O governo sempre se defendia reprimindo as manifestações com violência..

Assim entramos na trajetória de Patrice Emery Lumumba que em 1955, com 30 anos, trabalhava em uma cervejaria como vendedor e foi nesse momento que desenvolveu sua oratória. Nessa época já discursava no sindicato de funcionários públicos sobre os problemas existentes no Congo Belga, aspirando por um Congo independente. Em Leopoldville, Lumumba e outros militantes se reuniam para debater assuntos inerentes aos problemas do Congo e não demorou muito até que Patrice fundou o seu próprio partido em 1958, o Movimento Nacional Congolês (MNC). Após uma visita acadêmica à Bélgica, Patrice foi preso e acusado de fraudar o sistema de correio colonial.

Foi condenado a 2 anos, mas cumpriu apenas 1 ano.

Depois de sair da cadeia, Lumumba ficou ainda mais forte com seus discursos, anticolonialismo e pregando a unidade entre povos afrikanos e clamando pela independência de seu país.

Não demorou muito tempo depois de ser liberto e novamente foi preso por liderar uma manifestação pregando a “desobediência civil".

O MNC então lançou sua tática e se candidatou para as eleições e venceu com 90% dos votos. O governo belga convocou o MNC para a mesa Belga-congolesa em Bruxelas para discutir a transição do governo. O partido se recusou a comparecer sem Lumumba que ainda estava preso.

O governo belga libertou Lumumba para que ele fosse a reunião e assinasse o acordo da transição. No dia 30 de Junho de 1960, Lumumba foi eleito Primeiro-Ministro da República Democrática do Congo e passou a governar junto com o Presidente Joseph Kasavubu.

No dia da posse o Rei Baudoin da Bélgica discursou para os congressistas e obviamente elogiou o progresso do Congo até então. O que eles não esperavam era que Lumumba fosse discursar, e quando deram a palavra a ele tratou de denunciar os abusos sofridos pelos colonos e que Congoleses jamais deveriam esquecer das mortes proporcionadas pelo governo belga até então e que a independência foi uma conquista exclusiva dos congoleses. Os belgas e a elite congolesa que lá estavam entenderam como uma afronta que resultou numa guerra civil.

Lumumba tinha planos não só para o Congo, mas para todo o continente afrikano. Uma das suas aspirações era que os Afrikanos aproveitassem as riquezas existentes no solo, defendia que a verdadeira libertação africana só aconteceria a partir da soberania nacional, ou seja, a partir do momento em que a República Democrática do Congo deixasse de ser economicamente dependente da Europa. Porém, quanto mais independente se tornava o governo de Lumumba mais esquentavam as relações com os colonos e com outros líderes da oposição.

Em julho de 1960 eclodiu uma rebelião contra Lumumba, liderada por Moïse Tshombe, com o apoio da Bélgica, Estados Unidos e França. Os militares da Force Publique, uma força criada para defender os interesses da colônia belga, estavam insatisfeitos há muito tempo com os comandantes que eram em sua maioria Oficiais brancos. As relações com os “Flamingos" como eles chamavam os Belgas, ficou estreita e então organizaram um motim e patrulhavam as ruas sendo hostis com todos os brancos que moravam no país. Revoltados, faziam sequestros de familiares e chegaram até mesmo a assassinar belgas.

Lumumba atendeu ao pedido dos militares e exonerou o Major General e comandante da Force Publique Émile Janssens e promoveu o Coronel Joseph Mobutu, que fazia parte do MNC e de quem era amigo desde antes da criação do partido. Trocou o nome de Force Publique para Exército Nacional de Libertação, composto agora apenas por congoleses.

Antes do final do ano, Kasavubu afastou Lumumba, eleito de forma democrática, do cargo de primeiro-ministro, num golpe de Estado comandado pelo então Coronel Joseph Mobutu.

Agentes da CIA infiltrados tiveram papel primordial nesse golpe. Esse fato foi comprovado durante as audiências da Comissão Church, presidida pelo senador Frank Church. Como descreveu o relatório do inquérito: “Dulles (então chefe da CIA), telegrafou ao funcionário da base da CIA em Leopoldville, Congo, que ‘nos altos escalões’ a ‘remoção’ de Lumumba era ‘um objetivo urgente e prioritário’. Lumumba mais uma vez ficou preso, só que domiciliarmente e em dezembro de 1960 tentou fugir, mas foi capturado. Em 17 de janeiro de 1961, Lumumba foi transferido à força para a cidade de Lubumbashi, em Katanga, onde foi torturado e morto por um pelotão de fuzilamento comandado pelo líder de uma de suas oposições Moïse Tshombe, ao lado de oficiais belgas.

A visão de Lumumba era a de uma unidade, apesar da diversidade. Seu objetivo era que nos vissêmos todos como negros afrikanos, independente das diferenças tribais, étnicas e que o progresso do continente estava na nossa independência econômica e política do ocidente de forma a emancipar quaisquer relações com a Europa. Até os dias de hoje quando se comemora a independência congolesa é impossível não citar os feitos de Patrice Emery Lumumba que foi essencial para essa conquista que segundo o próprio era uma conquista que simbolizava cada congolês.

“Vamos fazer com que as terras do nosso país natal realmente beneficiem os seus filhos” -

Patrice Emery Lumumba

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Akinwunmi Bandele
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Estudo e leciono História no nosso Instituto de História da Áfrika e sua diáspora do Kilûmbu Òkòtó.