Em memória de Luiz Gama

Ligiamatcosta
revistaokoto
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3 min readJun 22, 2021

No dia vinte e um de junho de 1830 nasce Luiz Gonzaga Pinto da Gama, filho de Luiza Mahin líder por natureza, esteve envolvida da Revolta dos Malês a na Sabinada, que não se deixou ser colonizada.

Segundo as palavras de seu filho Luiz Gama:

“Sou filho natural de negra africana, livre da nação Nagô, de nome Luiza Mahin, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.

Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve.

Altiva, generosa, e vingativa. Era quitandeira e laboriosa”.

Apesar de ter nascido livre, com dez anos Luiz veio de Salvador para o Rio de Janeiro com seu pai e foi vendido pelo próprio como escravo pelo pai para pagar uma dívida de jogo.

Com dezessete anos aprende a ler e escrever, e aos dezoito já sabendo que sua condição de escravo era ilegal pois tinha nascido livre, ele foge para São Paulo, se alista nas forças armadas da província, se casa com Claudina Gama, e logo depois ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Era hostilizado pelos alunos e professores por ser preto, frequentava as aulas apenas como ouvinte, porém Luiz tinha objetivo: adquirir conhecimento.

E esse conhecimento adquirido foi muito importante na luta contra o regime escravocrata na época.

Em 1854, após uma insubordinação na Força Pública, ficou 39 dias preso, sendo em seguida expulso da corporação.

Em 1856 tornou-se escriturário da Secretaria de Polícia da Província de São Paulo.

Luiz esteve sempre envolvido nas questões abolicionistas, fundou o jornal “Diabo Coxo”.

Com caricaturas que ilustravam as reportagens dos fatos cotidianos da conjuntura social, política e econômica, o que permitia aqueles que não sabiam ler entender o que estava acontecendo.

Arte: Izaias Oliveira

Fundou o “Jornal Paulistano”. Colaborou com diversos jornais progressistas, entre eles, Ipiranga e Cabrião.

Mesmo não tendo um “diproma” Luiz era um advogado brilhante, defendia a causa de escravos que podiam pagar a alforria mas adivinhem só… Os “sinhozinho” não queriam abrir mão da “propriedade” dos pretos.

Pelo menos na lei depois de 1850, o tráfico de escravos era proibido, mesmo assim acontecia, Luiz também defendia esses que eram trazidos pra cá de forma ilegal.

Gama teria sido o responsável direto pela liberdade de aproximadamente quinhentos escravos.

Foi o primeiro negro brasileiro a lutar contra os ideais de branqueamento da sociedade e pelo fim da escravidão. Mesmo debilitado pela doença, saía carregado em uma maca, para atender seus clientes desejosos da liberdade. Faleceu em São Paulo, em 24 de agosto de 1882.

“O escravo que mata seu senhor, em qualquer circunstância, o faz sempre em legítima defesa”.

Em nós, até a cor é um defeito.
Um imperdoável mal de nascença,
o estigma de um crime.

Mas nossos críticos se esquecem
que essa cor, é a origem da riqueza
de milhares de ladrões que nos
insultam; que essa cor convencional
da escravidão tão semelhante
à da terra, abriga sob sua superfície
escura, vulcões, onde arde
o fogo sagrado da liberdade.

(Luiz Gama)

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