Passou pela encruzilhada e nem percebeu? Pagou.
Ser preto no Brasil colônia nos coloca numa encruzilhada diária. Você tem que estar sempre em alerta.
Se estamos desconectados de nossos ancestrais, da nossa espiritualidade, corremos alto risco de pegar o caminho errado e não conseguir voltar.
O racismo é um sistema bem elaborado e serve justamente pra isso. Nos fragmentar. Nos deixar em pedacinhos — “A fé tem que ser inabalável” — alerta, é aí que mora o perigo.
Já é sabido que os brancos são a nossa antítese — no que tange a espiritualidade, corporeidade e intelectualidade — tripé de desenvolvimento do Kilûmbo Òkòtó.
Obs.: Se você se sente mais perdido do que “saci andando de patinete” ao ler isso, sinto lhe informar, você está “mais pra lá, do que pra cá”. Tá usando muito a parte branca do olho pra ler.
Sem mais delongas, vamos nos fixar aqui sobre fenótipo.
O nosso sorriso harmoniza com nossa boca que harmoniza com nosso nariz e olhos, tudo isso com respaldo na melanina. “Ah…mais isso estou cansado de saber”. Eu também estou cansada de saber rs, mas e na prática?
Existem organizações que estão dispostas a fazer seus próprios corres — Kilûmbo Òkòtó — além de outras organizações sérias dispostas a construir.
A questão é: enquanto não temos “tudo” que precisamos em nossa comunidade , vez ou outra teremos que sair — É aí que mora o perigo.
Muitas das vezes por displicência (consciente ou não) nossa saúde acaba indo pro ralo — Sabemos que não por acaso, afinal aqui no ocidente tudo é pensado a partir da loucura branca e se é branco automaticamente não nos contempla.
Quem nunca foi num dentista que demonstrou desejo em “moldar” seu sorriso a partir da referência dele?
Quem nunca foi num cardiologista que te receitou várias medicações alegando ser essa a única possibilidade de sobrevivência?
Quem nunca foi num ortopedista que mal olhou a sua lesão e já queria te levar pra mesa de cirurgia, diga-se de passagem louco pra te “amputar”.
Passei por uma situação assim dia desses. Precisei ir ao dentista. Pânico.
Eu sentada, enquanto um homem e uma mulher branca (ambos dentistas) me olhavam “por cima” e decidiam o que seria melhor para o meu sorriso, óbvio sem considerar meu fenótipo, minha arcada dentária e toda a harmonização disso junto.
A sensação era meio alegórica. Eles diziam “ seu sorriso é maravilhoso, mas veja bem; ao fazer tal procedimento podemos alterar essa característica do seu rosto e blábláblá.
Eu pensei: isso que dá depender deles. A mutilação é certa. Eles não se aguentam. Eles são assim.
É daí que vem a importância de fazermos o ebó para fortalecer nossos corres entre nós. É daí que surge a importância de manter os pés no chão , nossa espiritualidade em dia ao precisar vez ou outra sair da comunidade.
Não podemos desligar o alerta nem durante uma consulta de rotina. Por isso, se faz necessário voltarmos para o autocuidado a partir das nossas referências. Da nossa ancestralidade.
Como você vai somar com uma organização se você não está minimamente organizado e óbvio se não está entre os seus ?
Certamente não tem negócio com a brecha. Uma vez lá eles vão te engolir.
Como você vai somar com uma organização se você não está minimamente organizado e óbvio se não está entre os seus ?
Certamente não tem negócio com a brecha. Uma vez lá eles vão te engolir.
