Espiral
Acho que todo mundo que acompanha o Òkòtó sabe que essa palavra também remete a uma concha cônica, que tem uma forma espiralada. A espiral tem algumas propriedades interessantes, como não possuir um fim, ela se expande ao infinito. Muito tempo antes de conhecer o Òkòtó eu ja admirava formas como a espiral, até pensei em estudar elas quando tava no auge da faculdade, acabou que estudei só um pouco por conta própria mesmo.
Expansão é uma das qualidades da espiral e assim como a espiral o Òkòtó tem se expandido cada vez mais. Quatro anos não são quatro dias, além disso poderíamos também pensar o quanto fizemos nesse tempo se comparado com os outros, mas a ideia é nunca se limitar por baixo, porque dai a gente se contenta com pouco. O Òkòtó tem se expandido antes da minha chegada na casa e vai continuar se expandindo depois, porque não se trata de algo sobre mim, mas do coletivo. Um propósito em comum que ultrapassa a existência individual, mas que construímos e fazemos parte.
Principalmente em um período de pandemia onde parece que todos estão se retraindo, parando e ficando ainda mais estáticos. Os ditos coletivos(porque autodeclaração é tudo) estão de certa forma parados, os militantes de carteirinha só estão na espera de algum caso pra poderem se projetar e enquanto isso nós continuamos a nos expandir independentemente. Não precisamos esperar algum caso de racismo para fazermos algo e a partir de então nos movimentar, ficar no papel de somente reação deveria ser pouco para qualquer grupo que se diz organização, afinal mobilização não é organização.
Tem sido tempos muito focados na internet, e apesar de nosso espaço ser na rua, na pista, mesmo assim não paramos de nos movimentar, lançamos a ACCA (Academia de Consciência Corporal Antirrascista), fizemos os processos de Entendendo e CFK (Consciência e Formação de Kilûmbu), lançamos curso de Economia de Kilûmbu, todo mês estamos com lançamento do FAMAAD(Frente Antirracista das Manifestações Artísticas Africano Diaspórica), entre tantas outras coisas. Não para, é movimento.
Uma outra propriedade interessante da espiral é que se você corta ela em um ponto você agora tem duas espirais(pode pensar que em uma você dá um zoom pra dentro e na outra um zoom pra fora). A partir de uma parte podemos replicar o todo. Isso te lembra alguma coisa? Tem um itã do qual sempre falamos, onde Orunmilá corta Exu e cada uma das partes se transforma em um outro Exu. Não adianta dividir porque cada divisão na verdade será uma multiplicação.
Então cada um de nós tem essa possibilidade de ser expansão, a pergunta é se estamos dispostos a isso. Aquilo da escola, de pedir pra colocar o nome no trabalho mesmo sem ter feito nada, aqui não adianta nada. Não adianta chegar só pra se encostar, chega só quem tá na disposição e fez a escolha lá na encruzilhada de participar da construção do nosso povo.
“Tudo o que você quiser na vida, você deve decidir fazer por si mesmo.”
Honorável Marcus Garvey
É fácil? A reposta é muito subjetiva, isso depende do que se procura. Mas decidir fazer pelo coletivo também é decidir fazer por si mesmo. Como na espiral, a parte reflete o todo e vice-versa. Sermos cada um uma parte dessa espiral em expansão que continuará pelo infinito, sermos a própria espiral.
