Esvaziar nossa cultura, é silenciar os meios de expressão do homem negro
Tô aqui ouvindo o novo do Kendrick Lamar, e estava lembrando da conversa com o bonde ontem, em relação ao Rap e de como alguns artistas (como por exemplo o Black Alien) não racializa sua música, ao contar/cantar a música pela perspectiva de um homem preto.
Essa parada ficou na minha cabeça desde ontem, pensando como o rap (não só o rap, mas também o funk e o samba) vem perdendo o poder da narrativa ao ponto de virar uma produto vazio (e totalmente extrativista) para o consumo do branco.
E mais importante que isso, vocês não fazem ideia do quão é importante é a integridade da nossa cultura para contarmos as nossas histórias através dos tempos. Não apenas retratando a realidade cotidiana de violência, mas também como expressamos o nosso afeto.
Tava pensando aqui, o que seria do Funk sem “Lágrimas” do Duda do Marapé, sem “Anjo do Mal” do Cláudio e Ratinho, sem “Preta” do Neguinho do Kaxeta, sem “Simpático” do Catra ou sem “Quero te encontrar” do Claudinho e Buchecha.
E o que seria do Samba sem “Na subida do morro” dos Originais do Samba, sem “Testamento de Partideiro” de Candeia, sem “Nego Dito” do Branca do Neve, sem “Conselheiro”, “Insensato Destino”, “Retrato Cantado” do Almir Guineto ou sem “Oya”, “Zumbi”, “Apelo” (Essa aqui dói demais mano) do Carica.
E o Rap sem “Um homem na Estrada”, “Fim de Semana no Parque” (primeiro rap que eu ouvi na minha vida) e inúmeras outras do Racionais, ou sem “Falcão”, “Soldado do Morro”, “Soldado que Fica” e “Estilo Vagabundo” do MV Bill.
O esvaziamento das nossas cultura, também resulta no silenciar da voz do homem preto, resulta no silenciar os nossos meios de se expressar e contar nossas histórias e o nosso afeto através dos tempos.
Muita gente enche a boca pra falar que homem preto não tem sentimento, não tem afeto ou “sensibilidade”, mas nunca repararam na quantidade de sentimento nós homens pretos expressamos através das músicas.
Enquanto muitos preferem ouvir músicas vazias que incentivam a encher e se autodestruir ou letras sem sentido pra fazer uma dancinha morta no Tik Tok, os nossos seguem contando nossas histórias e mantendo a nossa cultura viva.
