Eu, Òkòtó e aprendizado

Dara Makandal
revistaokoto
Published in
3 min readAug 2, 2021

Falar do Òkòtó é sempre um turbilhão de emoções, maluco, é tanta coisa para falar que não caberia nesse site. Conhecer o Òkòtó, sem sombra de duvidas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e acredito que não só na minha, mas de cada pessoa que está e que já passou pelo Kilûmbu.

Estar no grupo não é fácil, mas é muito mais difícil da nossa parte, do que da outra. Imagina, passar 20 e tantos anos num mundo branco, a gente adquiri vários desses comportamentos bizarros e quer levar isso para a comunidade e meu parceiro, nessa aqui, branco não se cria. O lance mais engraçado, é que as pessoas acham que vai ser pique DCE de Universidade, tudo lindo, Africa isso e aquilo, Matriarcado e não sei o que e as pessoas se “decepcionam” por acharem que vai ser um coletivo preto embranquecido e meu amor, ou você gosta ou você gosta.

Estar no Kilûmbu, é aprender a como ser preto, é aprender que o racismo se combate com um murro e não com choro na internet e talvez essa seja a revolta das primas, pois somos independentes, não dependemos dos brancos para sobreviver e a gente pode fazer e falar o que quiser sobre eles, sem medo de ser feliz. Mas estar no Òkòtó, também é trabalho, na verdade a maior parte é um trabalho, trabalho de construção pessoal e de construção de uma nação. Estar no Òkòtó, é um aprendizado diário, é uma constante. é que nem jogar capoeira, sempre estar em movimento, não ficar parado, pois sempre tem coisa para fazer e um certo alguém não deixa de trazer novas ideias e a gente também não deixa de fazer.

A gente recebeu um questionário esses dias e tiveram duas pergunta que me deixaram pensando até agora, uma que era o que mais desafiava a gente estar no Òkòtó e a outra que o Òkòtó poderia fazer mais pela gente, amados, estar no Òkòtó é sempre um desafio pessoal, é um desafio de não cair na casca de banana branca, é um desafio de não deixar o recheio pular., é faca amolando faca e cobra comendo cobra, pois ja diz a capoeira “vivo num ninho de cobra, sou cobra que cobra não morde, cobra conhece outra cobra, não precisa dizer quem é cobra” e o que mais o Òkòtó poderia fazer por mim? A casa me ensina todo dia a ser uma mulher preta para minha comunidade, me ensina a como ser uma irmã e exemplo pro meu menó, me ensina a ser mãe para as crianças da comunidade e para as minhas que estão por vir, o Òkòtó me ensina todo dia a ser quem eu sou, me ensina a ser uma mulher preta de verdade.

Òkòtó além de expansão, para mim é família. É aquela família preta que eu sempre quis, aquela galera que fala na sua cara que você tá fazendo besteira, mas que te ajuda a sair dessa, é aquela galera que te ensina a não cair te dando rasteira, é aquela galera que você pode contar. Mas também é aquilo, você tem que dar para receber.

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