Eu acho mesmo que nos falta é ódio!

Thabata Bernardes
revistaokoto
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3 min readFeb 9, 2022

Nos falta ter inteligência emocional o bastante para saber canalizar esse sentimento, amar a gente sempre amou, e foi e ainda é, por isso que nossos antepassados sofreram tanto e ainda assim conseguiram deixar tantos ensinamentos pra gente. Passar pela escravização do seu ser e ainda ainda construir famílias, legados, memórias e principalmente um caminho, é coisa de quem ama. Mas é coisa de quem odeia também, odiar uma condição em que se vive faz com que pensamos em todas as formas de sair daquela situação. Planejar, insistir, persistir, repensar e se preciso for, morrer, é coisa de quem sabe o que ama e o que odeia.

Arte: Diego Nunes

O Brasil odeia pretos, isso já esta posto, o mundo fora do continente africano odeia pretos. E odeia porque ama, tudo o que existe no mundo desde a cultura até à tecnologia foi roubado da África. O berço civilizatório do mundo é a África. E é por isso que somos tão odiados.

O Brasil é um dos países mais letais a qualquer pessoa preta, a pessoa preta que não tiver um mínimo de ódio aqui, ela morre ou adoece. Se conviver ou depender diretamente de bran,cos, ela vai sobreviver e o que vai movê-la a viver é o amor. Mas o que vai mesmo curá-la é o ódio a situação em que o bran,co a coloque.

A não ser que esse corpo preto esteja morto ou anestesiado pelo pouco que lhe é oferecido pelo seu empenho em resistir a todas as investidas de violência, o que vai mover esse corpo a mudar as condições que vive é o ódio mesmo!

O cristianismo teve a sua função na nossa desumanização, nos doutrinou a fazer o que eles jamais fizeram: perdoar. O perdão foi uma invenção para que não houvesse revide. Tu já pensou se todos os pretos se unissem pela vingança? Não ia sobrar nada e eles sabem disso!

O que transformou nosso inconsciente foi a violência e a dor. Foi pela dor que fomos conduzidos a obediência, e não somente a física. Ferir o íntimo, humilhar, escarnecer foram as armas mais letais que eles usaram e ainda usam sobre nós. Veja, o nosso irmão não foi apenas morto, ele foi brutalmente assassinado, em público, para todo mundo ver e entender que ali ainda se tem memórias sobre como dominar um homem preto e paralisar tantos outros.

De forma que não dá pra dar amor o tempo todo ou indiscriminadamente aqui, o Brasil nunca foi uma mãe pra gente. Aqui as crianças morrem por correrem na rua, que mãe é essa?!

Aprendamos com os nossos precedentes históricos a amar e a odiar também, porque a justiça não pode e nem deve vir de uma mão que não seja a nossa. A apatia não vence, o topo não pode revidar, a representatividade importa está em crise porque neste momento não há nada que eles possam fazer. Justamente por estarem diretamente ligados a eles e alimentando toda engrenagem desse sistema.

Se organizar é se proteger, a sua vida só é valiosa a quem te é íntimo, já pensou se todos os pretos fossem nossos íntimos?

Que a vida valha tanto quanto a morte e que assim nós possamos lutar tanto quanto necessário pela nossa história e pela nossa vida!

Que o sonho de Garvey não sucumba em nós!

Bom dia!

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