A Revolução do Ayiti é a referência.

Fiu Carvalho
revistaokoto
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2 min readJan 16, 2021

Eu questionei, “Onde está o governo do homem preto? Onde está o seu Rei e o seu reino? Onde está o seu Presidente, seu país e embaixadores, o seu exército, sua marinha e seus grandes homens de negócio?” E como não os encontrei, então declarei “Eu irei ajudar a cria-los!”

Marcus Mosiah Garvey.

Ilustração: Izaias Oliveira

Quando Marcus Garvey fez essa declaração os pretos da diáspora americana ainda estavam entendendo sua nova condição nesse continente. Mas, Garvey não tirou do bolso a idéia de um Presidente ou um Rei preto, de exércitos, marinha ou nação preta. Ele conhecia a história do Haiti.

É certo que Garvey conhecia os nomes e o que fizeram Makandal, Boukman, Fatimah, LÓvertoure e Dessalines, Christophe e Pétion. Personagens que viveram cem anos antes de Garvey e que possivelmente não eram muito citados fora da região do Caribe, com o risco de provocar calafrios aos branc’os — para dizer o mínimo. Isso se reflete na autodeterminação de Garvey e na forma como ele conduzia a UNIA.

Ele tinha como referência pessoas que deixaram seus medos de lado e lutaram entregando a própria vida pela liberdade do povo preto. Homens e mulheres que mesmo sem armas que se comparassem as dos seus inimigos, usavam sua criatividade e partiam pra luta com tanta ou mais voracidade. Lideres que não se aproveitavam da posição para benefícios pessoais, mas que entendiam que precisavam melhorar as condições de todos igualmente, para prosperar — muito antes do marxismo.

Os feitos naquela revolução seriam contatos, relembrados e muito mais celebrados, desculpando todo o sangue derramado no processo, se os seus protagonistas não carregassem melanina nas suas peles. Esses personagens entrariam para a dita “história mundial” como heróis, se não provocassem tanta vergonha aos europeus e não exaltassem tanto a capacidade do povo africano. E são exatamente a referências que todos os pretos devem, ou deveriam conhecer.

A Revolução do Ayiti talvez seja a experiência mais poderosa do povo preto nas Américas e, também por isso, até hoje o exemplo mais perigoso para a supremacia branc’a.

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