Exu Òkòtó

Você já viu um Okotô? A concha, a espiral... já viu? Òkòtó parte de um ponto inicial e em espiral expande para o todo, para o infinito. Exu Òkòtó é a própria espiral, a evolução, a expansão! É o tudo em todo lugar, porque é um e são muitos.

Existe um itã sobre Exu que conta que, Obatalá ao criar os seres, criou primeiro Exu. Orunmilá, se encantou com aquela criação e a quis para si, mas Obatalá disse que voltasse alguns meses depois, pois aquele ainda era um experimento...um teste. Passando um tempo, Orunmilá ainda muito desejoso de ter aquele Exu pra si, perturbou Obatalá para lhe dar logo aquele primeiro Exu. Tanto insistiu, que Obatalá cedeu, mas advertiu que ele deveria cumprir algumas determinações. Orunmilá assim o fez.

Algum tempo depois, a esposa de Orunmilá deu a luz a um bebê. E este bebê tinha uma fome insaciável. Comia de tudo e tanto que engoliu a própria mãe. Orunmilá, com medo de ser também engolido, pediu auxílio à Obatalá, que lhe ensinou um ebó que levava preás, uma espada de prata e muitos búzios. Ao entregar o ebó e ver que Exu se aproximava pata come-lo, Orunmilá pegou a espada e começou a cortar Exu em várias partes. E essas várias partes se dividiam em outras muitas partes. E cada vez que cortava, Exu se multiplicava.

Exu vendo que Orunmilá não pararia de parti-lo, fez um trato pra que Orunmilá parasse; Exu vomitaria tudo o que comeu, com a condição de que ele sempre comesse primeiro e que cada novo Exu que havia surgido daquele primeiro, seria o Exu que acompanharia cada ser criado por Obatalá!

Sendo assim cada ser vivo tem seu Exu individual e é ele que nos difere uns dos outros, em nossa essência. É quem nos torna únicos em nossas diversidades! Nós somos muitos, somos diversos, mas Exu é 1 só e é todos nós também. Entende?

Fiz essa volta toda pra dizer que estes dias andei pensando sobre o Òkòtó e do quando fazer parte do todo que é Exu, só faz sentido de verdade quando se compreende que investir em si é fazer e ser pelo todo, pelo coletivo. Porque quanto mais eu invisto na expansão de Exu, mais eu recebo de volta o que foi colocado ali. Só se colhe o que se planta, não é mesmo?!

Cada um de nós tem em si potencialidades capazes de gerar e criar no plano material, o que tanto almejamos enquanto nação preta! Cada um de nós temos nosso próprio Exu Òkòtó em nossa essência, capaz de gerar vida, dar movimento a ela e expandi-la! Nós somos o ponto inicial capaz de se expandir para o todo, para o coletivo. E esse todo é nossa família, nosso coletivo, nossos pares, nossos mais velhos e mais novos, nossa comunidade! Cada um de nós temos em nossa essência a capacidade de, através das nossas potências e da constante evolução e melhoramento delas, contribuir e construir um presente e futuro prósperos para os nossos, e consequentemente, para nós! Porque se eu cuido de quem tá vindo e quem segue ao meu lado, eu também serei cuidado.

É como um investimento. Eu invisto numa educação preta para minha filha, por exemplo, para que mais tarde essa educação cuide de mim na minha velhice, pois ela sabe desde cedo que eu sou sua referência. Da mesma forma que hoje eu cuido dos meus mais velhos, para que eles tenham o máximo de tempo neste mundo para me transmitir seu conhecimento, e por aí vai.

Ser Òkòtó é cuidar de si, para que sua potencialidade contribua para o todo e esse todo devolverá para você todo cuidado e implicação que você teve com ele ao fazê-lo expandir! Reciprocidade!

Quem dá de comer à Exu e o agrada, o têm sempre a seu favor!

Imagem retirada da internet