Festejar a comunidade

Magrinha Òkòtó
revistaokoto
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2 min readNov 30, 2022

Eu sempre falo que no Òkòtó a gente faz o difícil parecer fácil.

O que eu faço brincando quero ver você fazer

E essa sempre se mostra uma das maiores realidades em todo evento que a gente faz. Nesse último festival foram dias de corre, uma galera monstra indo pra lá e pra cá, resolvendo cada detalhe pra gente entregar sempre o melhor. Vários passando horas e dias em viagem. Dias sem dormir direito pra no final chegar no evento todo mundo com sorrisão, com disposição.

Quem olha os rostinhos jamais diria o corre que teve por traz.

Você olhava e não via caras fechadas pelo cansaço ou puto por não ter dormido ou até ansioso pra que tudo acabe e possa descansar. Muito pelo contrário, só a galera desejando que tivesse mais um dia pra gente poder tá junto.

Porque se a gente faz pela comunidade mesmo é só alegria poder estar com essa mesma comunidade pra colher os frutos do que fizemos. A gente festeja a comunidade, não só da boca pra fora, não por obrigação, mas porque é o que estamos construindo juntos. E estamos construindo um Kilumbû lindo, feliz, com muita responsabilidade e trabalho, tudo isso atrelado ao sorriso. Não adianta construir algo somente bonito às vistas do outro, mas que não possamos desfrutar.

Fazemos um evento para que a gente mesmo possa aproveitar e pra que o outro da minha comunidade também se maravilhe. De nós para nós mesmos segue sendo cada vez melhor e maior.

Entre a gente é ENTRE A GENTE mesmo! Acho que todo mundo já foi num evento onde o convidado pra cantar só faz o trabalho dele e vaza e o mesmo com todo o resto do pessoal que tá ali ‘trabalhando’. Por um lado por que essa galera se esforçaria de estar ‘fazendo a mais’ por algo que nem é dela?Mas por outro, porque essa galera não tá construindo algo na autonomia mesmo?

A velha história do acomodado que prefere seguir a cartilha e não ter nada pra ele enquanto comunidade do que ir contra a onda de só procurar agradar branc’o. Pique aqueles rappers que vão cantar nos eventos que só tem branc’o, mas tá tudo bem porque na hora da foto não deu sorriso entre os branc’os e vazou correndo. Enfim a resistência negresca.

No nosso festival quem se apresentou conversou, bebeu e trocou. Quem cuidava da parte técnica do som dançava, quem cuidou da alimentação também foi alimentado (não só em relação a comida).

Por isso que digo que no Ókòtó a gente faz brincando o que muitos não conseguem fazer, na verdade, o que muitos não tem nem a coragem de tentar fazer.

Arte: Tibor

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