Fulano Violento

Kafunji Mahin
revistaokoto
Published in
2 min readDec 21, 2020

Fulano Violento nasceu numa família pobre, sem muitas condições de sobrevivência. Aos 8anos, Funano Violento viu a mãe jogar álcool no próprio corpo e acender o fósforo! Viu o pai não dar conta de educar os filhos e ter que deixá-los num reformatório, para terem o mínimo de educação.

Fulano Violento, fugiu do reformatório e das violências que sofria lá, foi viver na rua e fez da rua seu lar. Quarenta anos de vida na rua, puxou duas passagens, metade de uma delas no seguro pra não matar nem morrer lá dentro. Fulano Violento, um dia parou em mais uma instituição que desta vez prometia ajudar. Conseguiu seus documentos, conseguiu algum alimento, até sair da rua conseguiu, mas não conseguiu tirar dele a fama de violento. Fulano continuava sem nome, era só mais um no registro do estabelecimento. Não precisou muito tempo, pra Fulano Violento se tornar o problema dali. O que não sabia falar, o que não sabia pedir.

Pedir? Alguém que sempre teve que conseguir na marra?! No grito?! Quiçá na porrada?! Alguém que carrega a culpa de tudo e quem o mundo culpa por ter sido parido?! Fulano Violento fala da maneira que aprendeu falar, mas naquele lugar, sua fala é agressiva demais pra racista ouvir. Querem que Fulano Violento seja dócil, “educado”, fale baixo ou nem fale...mas Fulano Violento tem muito a dizer! Fala pras paredes, fala pra quem passa, grita pra ser ouvido, mas ouvido nenhum quer escutar.

Fulano Violento percebeu que ali era só mais uma forma de lhe matar! Sem voz, no silêncio, fingindo ser ouvido, sem margem, com muito contorno e de preferência com hora marcada pra não ter que ser aturado muito tempo. Fulano Violento queria ter queimado junto com a mãe, mas ficou aqui neste mundo pra carregar a carga de homem preto violento, numa realidade que nunca se quer lhe deu a chance de não ser!

Fulano Violento não teve redenção, mas teve muita opção. Afinal não se esforçou pra chegar ao topo do mundo, como seu mestre mandou. Foi na contramão do imposto, a margem do esperado, fugitivo na própria vida. Com tanta história roubada por branc'o, foi chamado de ladrão. 157 no código, ainda sem nome no registro, mais um preto que viveu demais e foi encaixado nas piores estatísticas.

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