“Iê, Viva Francisco!”

Francisco José Itamar de Assumpção, vulgo Itamar. Itamar Assumpção!

Mayara Assunção
revistaokoto
3 min readSep 15, 2021

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“Devagar com esse andor Leonor
Casamento é muito caro
Sou compositor, cantor, também sou autor
Falo mais de flor que dor, Leonor
Mas não sou Roberto Carlos…”

Sim, Itamar (1949–2003) foi compositor, cantor, autor, violonista, baixista, produtor, ator e, como a maioria dos Homens Negros, desenvolveu inúmeras habilidades ao longo de sua vida. Nascido no interior de São Paulo, em 1949, aprendeu sozinho a tocar violão, baixo e assim, começou a compor.

Imagem retirada da internet

Itamar é referência da chamada “música independente” no Brasil. Vindo de uma família de candomblé, espiritualidade e musicalidade sempre estiveram presente na vida do menino Itamar. Tinha laços fortes com o seu pai, e também formou laços fortes com as filhas.

Além de músico e um artista íncrivel, foi Filho, Pai, Amigo…

De musicalidade pulsante, transitava entre diversos ritmos: ora funk, ora samba, ora rock, ora reggae… Em suas letras, temas raciais e sociais. A banda que acompanhava levava o nome de “Isca de Polícia”, uma forma de deboche, de crítica. Embora um Homem de musicalidade única, Itamar foi diversas vezes chamado pelos “especialistas musicais” de “artista maldito”.

Mas Itamar preferia outro “apelido”. Era ele, Nego DIto

“Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé”

Sempre na atividade, Itamar era considerado “marginal” por uns, e respondia criando mais músicas e melodias. Não à toa, produziu muitas músicas sozinho e também em parcerias. Lançou nove álbuns em vida, e três álbuns foram lançados após a sua morte.

Pai de Anelis e Serena Assumpção, deixou muito material escrito e muito conteúdo gravado. O que possibilitou e possibilita até hoje que sua trajetória seja mantida e viva.

Penso que isso é nosso: essa capacidade de produzir muito, de fazer bem-feito.

E Itamar era desses, de ir lá e fazer!

Se movimentar, aprender o necessário e além dele. Não era de ficar esperando acontecer, era de ir lá e fazer acontecer. E por isso, se aperfeiçoava sempre nas coisas que fazia.

Após a sua morte, com direção e curadoria da própria filha Anelis, recebeu de Homenagem por sua trajetória o Museu Virtual Itamar Assumpção (MU.ITA). Um museu virtual, com perspectiva afrofuturista e preta, o primeiro do Brasil com tradução para o Iorubá. É possível acessar a trajetória de Itamar através de um acervo de mais de dois mil itens (são fotos, anotações, objetos pessoais, cadernos…)

Itamar era assim: um homem que produziu muito em vida. Foi também muito rotulado e, dispensava rótulos com sua arte, tanto os positivos quanto os negativos. Se ele julgava não lhe caber, ele recusava os “adjetivos” e fim.

Foi um poeta genial, articulava bem as palavras, sabia criticar com acidez e muito deboche. O Pretão sabia que com papo de risada, malemolência e sagacidade também se aprende e também se ensina.

“Iê, Viva Meu Mestre!

Para conhecer a discografia:
https://www.itamarassumpcao.com/discografia

Para ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=kaV8enVCBHU

Para conhecer o museu:
https://www.itamarassumpcao.com/

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Mayara Assunção
revistaokoto

Filha da Dona Rita. Mãe do Adriano e da Amora. De São Mateus. Algumas vezes eu danço, em outras toco e noutras escrevo!