Kwanzaa, confirmação de propósitos

Gabriella' Iyabo Kokumo
revistaokoto
Published in
3 min readJan 25, 2023

É madrugada e eu aqui com os zóinhos acesos depois de um café, que milagrosamente fez efeito. Ou talvez o milagre seja justamente o ânimo que o Kilumbu Òkótó dá na gente, com a ajudinha do Sol em Capricórnio, pra quem acredita em signos hehe. Um ânimo que parte de um propósito e é retroalimentado pela dedicação.

Tiberios Arte

Hoje/ontem foi dia de iniciar resolução de pendências, remexer a casa e ajustar o foco para meu crescimento em 2023. Sei que não terei controle do que acontecerá neste ano, mas tenho a certeza de onde estarei de 26 de dezembro a 01 de janeiro de 2024, que vai ser no meu segundo Kwanzaa. Já falei que não dá pra explicar o que aconteceu lá. Mas dá pra enxergar resultados, os bons frutos chegando, assim como a visão de algumas pedras no caminho que não é fácil, mas não é impossível.

O lance é que estar numa organização autônoma preta me faz me sentir mais confiante. Primeiro: porque não me sinto só. Segundo: porque é a primeira vez em que começo a visualizar um futuro próximo em que toda a minha energia esteja voltada para construção de nossa nação preta de uma forma que eu possa ser eu, a partir do que já tenho como habilidades e desenvolvendo outras, aprendendo cada vez mais a ser gente e a ser útil.

Antes de conhecer o Òkótó, já sabia onde eu não queria estar, já sabia que não era na vida acadêmica dessas universidades do mundo branco e que não era assinando embaixo de nenhuma cartilha feminista. Mas segui que nem uma barata tonta, cada vez mais sem chão e sem saber o que queria, poderia ser, desenvolver, criar. Afinal, antes de começar a virar a chave, já tava tudo certo pro caminho, a verdade e a vida de professora universitária concursada depressiva ansiosa anêmica desesperada frustrada sedentária, com alguma moeda no bolso. Tantos anos adestrada, que fui ficando burrinha, burrinha, com o corpo frágil e duro e a mente da mesma forma: quadradinha, com dificuldade de enxergar além dos limites das instituições brancas.

E aí que entra o Kwanzaa, que foi aquele momento de síntese do nosso Kilumbu: espiritualidade, corpo e intelectualidade. A nossa base espiritual ninguém vai achar em livro nenhum. E quem não tá dentro não vai entender o nível de conexão, de wifi batendo entre o grupo. Como é que explica quando duas pessoas que não estão se olhando puxam a mesma música ao mesmo tempo ao som de berimbaus depois de um tempo sem ninguém cantar de tanta emoção? Como é que explica você ter no máximo três horas de sono e conseguir treinar capoeira, dar conta de tarefas da manutenção do espaço e do cuidado com as crianças e à noite estar se acabando no samba de roda, na roda de samba, no maracatu ou ainda jogando mais capoeira?

Já disse que não vou explicar. Vocês que lutem pra fazer o CFK, nosso programa de formação para quem se candidata a entrar no Kilumbu Okoto.

Outros resultados desse encontro ainda vão rolar durante o ano, já começaram a rolar nessa organização de metas, algumas já iniciadas.

Que eu possa honrar Exu.

Que eu possa honrar meus ancestrais.

Que eu possa honrar o Kilûmbu Òkótó.

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