Lutando contra nós mesmos

Lua Cruz
revistaokoto
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3 min readAug 9, 2022
Imagem da internet

Somos embranquecidos, Pretos embranquecidos, isso é um fato. Todos tem suas contradições, agora saber disso e não querer sair da zona de conforto é muito decepcionante. É difícil, mas não impossível quando tu busca fazer isso com pessoas que também estão na mesma caminhada: Enegrecer!

Sabendo que ser Negro vai muito além da pigmentação, mas sim de uma atitude mental (Steve Biko), em defesa da sua cultura. Percebemos que um Preto pode ser o mais retinto possível, ter nascido no continente Africano e tudo mais, porém se ele valoriza tudo que foi criado pela sociedade branca: educação, moral, ética e cultura; vai ser muito difícil ele ter uma autocrítica da sua própria alienação, do seu embranquecimento.

Pensando nesse trecho do Livro “Os Papéis de Isis” da Dra. Frances, onde ela cita:

“(…) brancos

defensivamente desenvolveram um sentido incontrolável de hostilidade e

agressão… Esta reação psicológica desconcertante dos brancos tem sido dirigida a todos os povos com a capacidade de produzir melanina.”

Se a gente foi ensinado a odiar tudo que é nosso, nossa própria cor, nossos traços… tudo que lembra a origem humana da civilização, que é Africana. E aprendemos com essa civilização Européia (Branca) a nos odiar, e ama-los. Vamos agir da mesma forma que eles, com hostilidade e agressão.

Esse sentimento de auto-ódio da nossa origem, a gente devolve para o Preto que tenha não somente a cor (melanina), mas que haja em atitude, que não seja submisso, dócil, medroso, ou seja, que não defenda o sistema Branco.

Veja, não to dizendo que os Pretos que estão “acordando’ dessa dominação, não agem da mesma maneira que o Preto que tá “dormindo”.

A diferença é que, o outro sabe que é embranquecido. Seu dever é lutar contra a imagem branca que está dentro do seu subconsciente (mente), corpo (ação) e espírito (energia). Lutar contra o branco que existe dentro dele. De não alimentá-lo.

Um exemplo é o filme Corra (Get Out), em que a empregada doméstica da família branca, diz que não recebe ordens dos patrões, mas se vê que no seu olhar seu espírito Preto, já foi dominado pelos mesmo.

Ou seja, nós mesmo não precisamos mais de um branco pra nos escravizar. Eles já construiram todo um sistema, e também utilizam os Pretos (embranquecidos) pra fazer isso.

Nós também estamos nos escravizando mentalmente, a gente mesmo se trava, desacredita da força que temos. Da força, que só a melanina — nossa bateria corporal — faz a gente ter e sermos diferentes, inclusive ter senso de coletividade.

Ao mesmo tempo como a gente vai querer ser bom, num ambiente hostil, em que o sistema foi pensado para nos matar, matar os nossos homens que tem essa energia da ação. Não é atoa que se não matam homens pretos na bala, matam eles espiritualmente, a ponto deles não quererem demonstrar a força de um guerreiro. Da mesma forma, nós mulheres Pretas, esquecemos que dentro de nós existe essa energia guerreira.

No final, a gente que tem que aprender a dominar nosso lado embranquecido; enegrecer junto dos nossos, que estão na mesma frequência de libertação não só física, mas interna, espiritual.

#kilumbuokoto

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