Mamãe mandou

Arokin Akasia
revistaokoto
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2 min readJul 19, 2021

Minha já me dizia tantas coisas que quanto mais o tempo passa mais tento lembrar do passado para aprender coisas que a idade mais jovem não teve a atenção para reter. Hoje em dia cato uma coisa ou outra falada com intenção, mas sem muita atenção. “Se eu marquei tal hora com fulano eu vo ta tal hora lá” — “seu pai me ensinou a falar o que me foi perguntado, sem voltas, ser direto”.

Geral que chega chegando próximo ao Kilûmbu Òkòtó e a pretagogia da casa depois de anos de processo de embranquecimento pode ficar chocado com certas formas de se lidar com a vida, não um choque de desconhecimento, mas por já estar a tanto tempo se comportando de uma forma que nem se lembrava mais como é se comportar de maneira africana.

E por isso que falei da minha mãe e do que ela já me ensinou, antes de pretagogia, antes e durante qualquer tipo de atravessamento branco em minha vida, dentro de casa, meus familiares já me ensinaram bastante coisa do que é ser africano. E com certeza ensinaram muitos de vocês aí. A gente acha que é coisa de velho e olha isso com maus olhos ainda quando mais jovem, e é coisa de velho sim e que bom que é coisa de velho!
Que bom que buscar ser uma pessoa compromissada com os horários, com as responsas é coisa de velho, que bom que fazer as coisas sempre com intenção, nunca sem objetivo, é coisa de velho, que bom que sinceridade antes de tudo consigo para que aí você seja com outros é coisa de velho.

O que é velho para nosso povo hoje aqui na diáspora na verdade é bem novo, já que a maior parte dos anos nós e muitos de nossos pais aprendemos o novo do branco… O que é ancestral para nós novos nesse mundo é bastante novo também. Quanto mais o tempo passa mais distante a gente fica daqueles que lá no continente ensinaram muitos dos que foram sequestrados pra cá e ensinaram década após década aos seus descendentes, que chegaram até nós já bastante fragmentados.

Há de se ter um cuidado com o aprendizado, o que já foi passado principalmente, pois é papo da gente estar num ponto onde muita coisa já ficou pra trás e nunca vai voltar, o que se tem hoje do passado é de responsabilidade de geral fazer por onde pra manter a memória viva.

Outra coisa também é o cuidado pra que você construa memórias e aprendizados africanos, não só de passado vive o homem… e se temos bastante do nosso passado roubado, apagado, deturpado… cabe a nós criar.

Imagem da Internet

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