Marcus Garvey sobre desemprego

Àbáyọ̀mí Rametj
revistaokoto
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3 min readMay 4, 2022

Este texto é uma adaptação do discurso de Marcus Garvey em Liberty Hall, Harlem, New York. 11 de fevereiro de 1921.

“Vocês devem se lembrar que nos anos anteriores à Grande Guerra, na Europa, havia uma grande estagnação entre os Negros nos EUA. Foi quando enfrentamos uma difícil e dura tarefa industrialmente, economicamente e não tínhamos nenhuma esperança.

Assim que a guerra iniciou na Europa, os participantes fizeram várias encomendas de mantimentos de guerra e munições para os EUA. Por conta da demanda anormal, uma grande onda industrial varreu o país e várias oportunidades surgiram, não apenas para os Negros, mas para todas as raças.

Algumas das pessoas que desfrutaram da distribuição dessa riqueza, conservaram o que ganharam, como os Judeus, os Italianos, os Irlandeses e os Poloneses. Os Negros, no entanto, da maneira mais desleixada, mais negligente e indiferente, receberam sua parte e não fizeram esforço algum para conservá-la. Ao mesmo tempo, uma grande quantidade dos seus líderes não disseram nada. Não tinham conselho algum para dar.

Assim que a UNIA chegou em cena, com propaganda ativa, ensinou preparação — preparacão industrial para os Negros. A UNIA os alertou que deveriam se preparar para iniciar indústrias por conta própria, a guardar o dinheiro e fazer todo o esforço para se protegerem.

Fizemos isso com a convicção de que os homens com quem nos misturamos durante a guerra nos pagaram salários altos, mas eles foram forçados. A atitude dos empregadores neste país era pagar o Negro o mínimo possível, porque desejavam manter o Negro como um peão industrial, como um servo industrial.

Alguns de nós os forçaram a pagar 200 dólares por semana, e eles pagaram, mas com uma amarga angústia e disseram ‘vamos ficar quites com os Negros’. Quando aumentaram o custo de vida, o preço do pão, da manteiga, dos ovos e da carne e de outras coisas essenciais, o que quiseram dizer com isso? Que deveríamos devolver cada moeda que ganhamos deles. Subiram os preços das luxúrias, e todos sabemos que, acima de todos os outros povos, os Negros amam as luxúrias.

Os Italianos guardaram pelo menos 60% do que receberam, os Irlandeses 50%. Ao fim da guerra, cada um tinha uma conta bancária pra exibir. E o quanto nós tínhamos? Que investimentos tínhamos para exibir? Absolutamente nada. De quem é a culpa? Das pessoas, e é culpa, mais ainda dos nossos líderes.

Nós por acaso não gastamos, durante a guerra, 50 e 100 dólares, e mais ainda por mero prazer e roupas caras? Se tivéssemos investido esses dinheiro no capital da Black Star Line, o que teria acontecido? Teríamos navios capazes de acomodar 500 ou 1000 passageiros. Todo dia, um navio da Black Star Line poderia navegar de um porto de Nova Iorque para a Liberia.

Mas você não investiu no capital, você gastou o dinheiro em camisetas de seda e meias caras. E quem são os donos dessas fábricas de camisetas e meias? Homens brancos. Quem os vendeu pra você? Homens brancos. Onde está o dinheiro que você gastou? Voltou para o homem branco.

A única salvação para os Negros agora é abrir oportunidades industriais e econômicas em algum lugar, e não vejo isso por aqui. Vocês terão que criar outra guerra para isso. É momento de fazer os outros saberem que vocês estão vivos. Negros não querem implorar por empregos, os Negros devem criar empregos.”

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Àbáyọ̀mí Rametj
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Um ser em desenvolvimento, trilhando caminhos através da espiritualidade, da capoeira e dos algoritmos. O àṣẹ de Ògún guia a criação de tecnologias