Menos “Militantes”, Mais Organizadores

Resistência organizada é o melhor remédio no combate ao racismo. Ninguém faz nada sozinho.

Táíwò Òkòtó
revistaokoto
3 min readSep 27, 2021

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Ilustração: Izaias Oliveira

A palavra “militante” praticamente já não diz mais nada hoje… caiu em desuso. Qualquer desgraça se diz militante. Tanto que tem umas pessoas que lançam “ahhh cansei da militância, vou me afastar desse ambiente tóxico” e quando você vai ver o que fazia esse militante, fazia nada, só postava. Muitas vezes nem isso, só curtia e compartilhava o que os outros postavam. Ou faziam remix das ideias dos outros. Tá cheio disso aí. Várias páginas.

Se essa galera pára de “militar” o que perde o movimento? Likes e compartilhamentos? É isso?! Só isso mesmo?

“Não adianta mudar o pensamento carregando os mesmos vícios, as mesmas manias”

Pior que essa doença tem atingido em cheio a galera que hoje fala de pan-africanismo, de nacionalismo negro, de Garvey, de organização. Porque a galera acha que descobriu Garvey e o pan africanismo num dia, dormiu e já acordou no outro dia nacionalista, pan-africanista. Pessoal acha que descobriu que feminismo negro é também uma desgraça, aí “acha” o mulherismo, dorme e já acorda no outro dia mulherista.

Não adianta mudar o pensamento carregando os mesmos vícios, as mesmas manias. Mudou de ideia mas não mudou de postura e, por isso, frequentemente, esse atraso vai se refletir nas ideias.

E as ideias mais pretas que você passa a abraçar você vai embranquecê-la, pois antes de meter as mãos nelas não fez direito o trabalho de se descontaminar das outras ideias, das outras posturas.

Tem uma galera que muda de ideias mas não muda a sua forma de lidar com as ideias. Muda de ideias mas não muda o que faz com as ideias, aquele tal de “nada”, vários nada. E aí, se tá com essa ou aquela ideia, qual diferença faz?! No final, não vai sair nada mesmo. E aí pra ficar fazendo de branc’o com ideias pretas, pra trazer o movimento cartesiano e a separação de teoria e prática pra ideias pretas, é melhor morrer pra lá abraçado nas ideias branc’as mesmo. Melhor que embranquecer as pretas com esse toque de midas reverso.

“Envolvimento sem compromisso é oportunismo”

Pensar e pensar sem fazer nada… saber de tudo e não fazer nada… é o que caracteriza a maioria dos dito militantes. E é também o que carateriza a maioria dos branc’os ditos entendidos de racismo. No final das contas, a palavra “militante” acabou se tornando vazia. Não quer dizer nada. Vem sendo usada pra rotular muita gente que não faz nada. E muitas vezes enche e boca pra falar “mas minha militância…”.

Resistência organizada é o melhor remédio para o combate ao racismo.

Enfim, enquanto muitos podem se dizer “militantes”, pergunto quantos poderiam ousar se dizer “organizadores”. Precisamos de organizadores. Militante que não é organizador é só um impostor. Só alguém que diz que é. Só aproveitador. Galera que se envolve com a causa sem se comprometer com nada. E como a gente sempre fala: envolvimento sem compromisso é o oportunismo.

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