Mestre Gil
“Bandolê , Olê , Olê
Bandolê , Olê , Olá
Bandoleia , Jongueiro ê
Bandolê , Olê , Olá”
(Domínio Público)
Camisa vermelha para dentro da calça social com cinto. Sapato da cor da camisa e chapéu da cor da calça: Mestre Gil nunca esteve desalinhado. Sempre arrumado e de colete.
Quem já teve a oportunidade de assistir o “Jongo de Piquete” com certeza viu e se encantou com este Mestre Jongueiro.
O Homem que dá voz, passos e que conduz o grupo de Jongo da comunidade que se concentra no bairro Vila Eleotério, no município de Piquete, em São Paulo, é um verdadeiro Rei!
Filho da Tia Dita. Pai, avô e bisavô. Mestre Gil é sinônimo de Família e o Jongo de Piquete é composto por famílias. As crianças são presença confirmada nas rodas: da dança aos tambores. E os mais velhos? Bom, estes são presença fundamental.
Sem os dois não têm roda de Jongo que aconteça em Piquete.
Há 27 anos, Mestre Gil está à frente do Jongo de Piquete. São em média 12 famílias que compõem a comunidade. Ele também é o responsável por “puxar os pontos”.
Para ele, as cantigas acompanhadas pela Ngoma — nome dado a formação dos três tambores Caxambu, Tambu e Candongueiro — podem ser de cinco tipos. Respectivamente, louvação, de abertura, de demanda, de encerramento e de “risaria”.
“Risaria” que é dito em Piquete é exatamente as brincadeiras, os versos provocativos e as toadas de deboche presente em todas as manifestações Negras. Aliás, Mestre Gil de Piquete apresenta no Jongo, e na vida, a elegância, a graça, a responsabilidade, a autonomia e a liderança do Homem Negro. É o corpo negro brincante, defensivo e ofensivo — se necessário.
O corpo do Jongueiro não existe só por um momento. Ele não acontece só na roda.
O corpo brincante de um Jongueiro é o tempo todo o “corpo de um Jongueiro”.
O Jongo é uma manifestação que acontece na região do médio Vale do Paraíba em São Paulo, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Espirito Santo e também em Minas Gerais. Do tronco dos Batuques, acontece em roda, com o tradicional jogo de “Perguntas e Respostas”no canto, acompanhado dos tambores. No centro da roda, casais dançam passos definidos que se alteram com brincadeiras, deboches, malemolências e jogos.
Gil de Piquete começou a organizar o Jongo por ali e abriu a sua própria casa para que as atividades tivessem um espaço. Em certa ocasião, ganhou tecidos para o grupo e como não encontrou costureira para fazer a roupa, foi ele mesmo costurar as saias e as camisas para que o “Jongo de Piquete” se apresentasse alinhado.
Manter todas Famílias alinhadas e em atividade com o jongo é tarefa diária, a continuidade dos conhecimentos na comunidade acontece pela observação constante. É no dia-a-dia que o trabalho acontece e que também os aprendizados acontecem. É na roda, observando os mais velhos que os mais novos aprendem os toques, as danças e os cantos.
Observação, elegância, aprendizados, responsabilidade, persistência e liderança, com dança, cantigas, toques e brincadeiras. Tudo isso é Jongo. Tudo isso é Mestre Gil de Piquete!
“Iê, Viva Meu Mestre!”