Na verdade, Elijah nem era tão Muhammad assim: um ponto sobre Elijah Muhammad e Malcolm X.

A única coisa que Ellijah Muhammad teve de contribuição ao Malcolm X, foi ter lhe dado uma certa instrução racial. Mas a inteligência política de Malcolm, essa ele aprendeu com a vida. Ninguém passa pela rua, pela criminalidade e, mesmo que tenha sido preso, vai pro inferno e volta e se reorienta a numa organização que vai lhe oferecer um propósito para a sua fúria com o mundo sem ter uma sensibilidade e inteligência política aguçadíssima.

Dessalín Òkòtó
revistaokoto
3 min readJul 22, 2021

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Elijah Muhammad e Malcolm X (Fonte: Pinterest)

Hj no Aulão “Por Qualquer Meio Necessário” do Kilûmbu Òkòtó, o Balogum Manu Yahya Òkòtó falou uma parada muito importante: assim como Sankara foi brabo apesar do marxismo, Malcolm foi foda apesar da Nação do Islã (NOI). A NOI jamais foi uma organização política voltada para a emancipação do povo preto na América. A Nação do Islã sempre se fez pela capitalização da desgraça do povo preto da América a fim de engordar seu capital religioso. E o que isso tem de diferente da Igreja Católica ou Igreja Universal? “Ainnn, mas a NOI é uma organização séria, com milhares de pessoas vivendo dignamente segundo seu próprio trabalho e tal e tal e tal”. Verdade. Mas, até a entrada de Malcolm, a NOI era um reduto religioso de centenas de pessoas. Com Malcolm assumindo a cara pública da organização, ele fez a NOI saltar de algumas centas para dezenas de milhares de integrantes em poucos anos. Elijah Muhammad só deixava Malcolm tão soltinho nos seus discursos pois Malcolm X era a sua galinha dos ovos de ouro. Sozinho, ele chamou mais gente pra Nação do Islã que todos os oradores e líderes da NOI juntos, antes ou depois de Malcolm, foram capazes de fazer juntos.

Verdade seja dita, a NOI sempre buscou poder religioso para si, e não poder político para o povo negro. Daí voltamos à mesma questão: qual a diferença disso para o que a Universal e a Igreja fazem? “Ainnn, mas a NOI resgatou muitos homens negros da prisão e mulheres da prostituição e miséria” “Resgate da marginalidade” qualquer igreja ou ong não faz também? No fim, senhoras e senhores, não é por acaso que a NOI não esteja muito longe dos vícios que as religiões abraãmicas(judaísmo, cristianismo e islamismo) estão: construir seu poder escravizando os desgraçados do mundo. Até a cartilha dos vícios de nepotismo, corrupção e abuso sexual, a cúpula cometeu com provavel participação e, certamente, consentimento do Elijah Muhammad.

Tão logo Malcolm sacrificou o poder religioso para fazer valer o poder racial, como bem disse o Taiwo Maicol na live da Negus Rei de do dia 19 de maio, ele rodou na mão do Elijah. O poder racial é uma antinomia do poder religioso no meio da NOI. Tão logo o Malcolm sacou que o lance não se resumia a NOI e se alinhou ao panafricanismo impulsionado pelos movimentos de descolonização do continente africano, o mesmo Malcolm não coube mais na Nação do Islã. Não à toa, assim que voltou de Meca, fundou uma organização panafricana com um entendimento da luta negra extendida a toda a Diáspora Africana no Continente Americano, a Organização para a União Afro-Americana. Sem abandonar sua orientação religiosa, fundou uma Mesquita Muçulmana. Daí adiante, a encruzilhada era simples: até a NOI estaria embranquecida perto de Malcolm.

Elijah deu instrução, mas a inteligência política foi a vida quem deu a Malcolm X. Defender algo além disso só pode ser papo de oportunistas que perdem tempo lendo cinco autores brancos ao invés de fazer algo por cinco pessoas pretas, assim como Malcolm sempre fez.

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Dessalín Òkòtó
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Querendo ser educador para melhorar minha comunidade, sentei para aprender e agora levanto para também ensinar.