Nada é Aleatório Quando se Fala em África

Stephanie Manu
revistaokoto
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3 min readMay 25, 2021

A nossa educação, ciência, espiritualidade e organização social nunca foram coisas separadas, as coisas sempre foram bem explicadas e definidas, com propósito. Nada é aleatório quando se fala em África.

Ilustração: Izaias Oliveira

Tava fazendo uma pesquisa sobre o império de Gana para um texto que ia escrever para a página, acabei sem querer esbarrando no tema da matrilinearidade. No império de Gana, a sucessão do rei era feita através dessa organização, onde quem recebe o trono é o filho da mulher da família, geralmente o sobrinho do rei, esse assunto não era novo pra mim, sempre soube que na África a sucessão era feita na grande maioria das vezes através da matrilinearidade, mas neste momento de estudo ouvindo o branco ridículo que tava falando que “não sabia porque eles utilizavam essa organização, que era mais simples passar o trono pro filho do rei” eu lembrei de uma parada da biologia.

Nosso corpo é formado por 50% do DNA da nossa mãe e 50% do DNA do nosso pai, porém isso é diferente em um lugar. Na nossa mitocôndria!

Eu não vou entrar na explicação do que é uma mitocôndria aqui, mas o que interessante dela em relação ao assunto que estávamos falando é que na mitocôndria é o único lugar do nosso corpo em que o DNA é totalmente herdado da nossa mãe. Isso explica totalmente a linhagem matrilinear, se você quer que o reino continue no poder da família que reinava ali você não vai oferecer o trono ao filho do rei e sim ao homem filho de uma das mulheres da família, por que ele carrega o DNA da família, ele carrega o DNA mitocondrial da mas antiga ancestral dessa família, então essa escolha esse estilo de organização é o mais sensato, o mais correto de acordo com o objetivo.

Olhando para o método organizacional europeu, você percebe que eles com tanto foco no homem e no patrilinearnismo conseguiram o contrário do que eles queriam, passando o trono pro filho do rei, acabaram passando o reinado na verdade para a família da rainha, mesmo que apenas biologicamente, eles deturparam a sua própria ordem.

A parada da mitocôndria é tão louco que me fez pensar também em relação a organização matriarcal da África, em como faz muito mais sentido olhar o mundo desse ângulo, além da questão da mulher que dá a vida ela é também que vai te acompanhar por toda a sua vida, não que o papel do homem seja menos importante (feministas saiam daqui), mas a mulher é o centro da vida, da continuidade, da ancestralidade isso é muito louco. E o foda é perceber que isso provavelmente não foi aleatório, a questão é que nosso povo, nossos ancestrais já sabiam disso. É aquela parada onde o branco chega e acha que tá inventando a roda, sendo que ela já existia há séculos, eles que não conseguiram entender e agora que tão entendendo tão querendo dizer que “descobriram”.

A nossa educação, ciência, espiritualidade e organização social nunca foram coisas separadas, as coisas sempre foram bem explicadas e definidas, com propósito, a gente volta naquele papo sobre os estudos das leis da vida a parada da conexão, tá tudo conectado, até aonde a gente não vê explicação por esta tão afundado no mundo branco, mas tem, nada é aleatório quando se fala da África.

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