Negros cordas, negros mágicos

Zezi Masomakali
revistaokoto
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6 min readApr 5, 2023

Tava vendo sobre uma teoria (que na verdade é uma prática antiga) sobre personagens pretos que só servem para alavancar os protagonistas brancos. São pessoas que são muito fodas, mas toda e qualquer ação dela, serve apenas como um gancho para o personagem principal aparecer.

Essa tradição começou nos EUA, que mesmo não sendo os prieiros a fazere cinema e afins, se tornaram uma potência. Bem como a França com a moda e a Rússia com o balé clássico, por exemplo.
Os atos racistas naquela época não permitiam que um personagem principal fosse uma pessoa preta. Além de não gerar lucro, pois brancos a frente das mídias, era inconcebível uma pessoa preta ser superior a uma pessoa branca nas telonas, quadrinhos, livros.

Esses personagens então, ganharam a denominação de negro corda ou negro mágico.

Negro corda é fácil de entender, porque ele puxa o personagem branco pro plot twist, que é aquela grande reviravolta na trama. O negro corda ajuda, dá suporte e muitas das vezes ele morre pro personagem branco poder acender.

O Tyrese Gibson, o Roman Pierce, Luda Cris que faz o Tej, o Thom Barry que faz o Agente Bilkins em Velozes e Furiosos II (eita que nessa franquia tem muito negro corda). Os personagens deles existem pro Vin Diesel e o Paul Walker aparecerem.

O negro mágico é aquele que tem poderes. Veja bem, o cara tem poderes e ainda sim, ele é um mero coadjuvante.
O Michael Clarke, que fez o John Coffey, em A Espera de Um Milagre, possuía poderes que curaram o personagem do Tom Hanks.
A Whoopi Goldberg, que faz a médiun Oda Mae em Gosth, Do Outro Lado da Vida. Ela faz toda a ponte pro Patrick Swayze a Demi Moore possa ser inseridos e dali pra frente, protagonizarem o filme.
Tem também o Djimon Hounsoou, que fez o Papa Meia noite em Constantine. Ele tem todo o aparato para levar alguém pro inferno no fundo do seu bar, mas é o Keanu Reeves que é o prota.

E esse tipo personagem pode estar em um lugar de muita impotância pros brancos, que ainda sim ele será diminuído a fim de que o bostolha apareça.
Quem não lembra de Morgan Freeman em OTodo Toderoso?
Mesmo sendo Deus, é só o coadjuvante do Jim Carrey.

Outros bons exemplos são os papéis da Octavia Spencer em Histórias Cruzadas, onde ela é a Minny Jackson, a doméstica faz o bolo de merda. Ela também atua em Estrelas Além do Tempo, aqui ela foi a Dorothy Vaughan, primeira supervisora negra da NASA. E por fim vou citar a adapatação cinematográfica do livro A cabana, e aqui ela é só Deus, viu?

Tem uma penca de atores que fazem esse tipo de papel, que geralmente é o que sobra porque a indústria, Hollywood e os diretores não dão mais chances.
Ou porque a história pedia que aquele papel não tivesse tanta impotência, porquê a história não gira em torno deles.
Será mesmo?

Porque nos quadrinhos é igual.
A Ororo que na verdade é a Tempestade do X-men, o John Stewart que é o Lanterna Verde, Nick Fury, o criador da inciativa dos Vingadores…Tem nos animes também.
Killer Bee de Naruto, Yoruichi e Kanami em Bleach.
Mesmo sendo fodas, muitas vezes executando o papel de treinar os protagonistas, se não fosse cada um ter seu próprio quadrinho ou mangá/ anime, eles ainda estariam ajudando um branco que vence pelo roteiro ou pior um grupo cheio deles.

E quando não estão satisfeitos, há uma descaracterização de personagens, que depois de alguns anos o público entende que eles seria pretos.
Como Picolo Daimaoh, Freeza, Madimbu e Bills, da franquia Dragon Ball , que não só foram retratados como vilões nas sus primeiras apareições, como também possuem outra cor, com a desculpa esfarrapada de serem seres de outros planetas. Vale Lembrar que no caso de Dragon Ball, Goku, o portagonista, também é de outro planeta, mas por algum motivo ele é bem comum e parecido com os terráqueos. Mas é melhor mesmo que eles sejam de outra cor, as pessoas pretas retratadas aqui são executadas de uma forma bem rídicula, beirando a caricatura.
Tem Jimbei, de One Piece. Uma curiosidade é que esse anime retrata várias formas de preconceitos e racismo, a fim de combate-los e ele pode até tentar acertar mas erra exatamento por tentar, já que não trazem uma pessoa preta de fato e isso fica a cargo do “não queremos apontar ninguém específico mas todas as pessoas preconceituosas e racistas” e por carregarem a polêmica do clareamento de um personagem importante pra trama, papo pra outro papo.

O que quero dizer e trazer pra debate é exatamente isso.
Não importa o lugar, se tem um branco, inevitavelmente o personagem preto contido ali vai ser o negro corda ou negro mágico dele. Por mais ruim ou incapaz de exercer aquele papel ou função, o branco sempre vai estar a frente da pessoa preta.

Nessa semana tivemos o caso da Patrícia poeta e do Manuel Manuel Soares. Ela o interrompeu durante o programa como se ele nem estivesse ali, e não foi a primeira vez.
O público segue percebendo mas o Manoel segue lá, sendo o negro mágico da sinhá.
No Twitter vários perfis, “de pessoas pretas” e também pessoas brancas apontaram que essa repetição pode ser racismo.

Opa, descobriram a roda!

Mas a galera começou a se questionar por quê ele é assim, por quê ele não reage.
E é como Malcon X disse em uma entrvista onde foi colacado frente a outro homem negro. Ele é questionado por este, sobre o por quê dele ser separatista com os brancos e até com muitos pretos.
Ele disse que as pessoas de cor que servem aos brancos são chamadas de negro da casa, o negro do sinhô. Ele geralmente mora num lugar não muito ruim, come bem e até se veste bem, tem acesso a coisas que um preto que rala na lavoura não teria. E por isso ele se sente privilegiado, ele acha que o branco é legal.
Ele convive com brancos quase constantemente, na época da escravidão se o senhor elogiasse ele deveria elogiar também, e até quando esse senhor ficasse doente o negro doméstico perguntaria o que é que eles tem, ainda que o negro não estivesse doente.
Lembram do Stephen? O negro da casa que o Samuel L. Jackson interpreta em Django? Ele mesmo!
Negro doméstico, domesticado. Malcon usa essa explicaçãpo para denominar pessoas tão corroídas pela conviência e presença do branco que ela já se sente parte daquilo, parte de um branco, mas não é. E o papel do branco é lembrar o negro doméstico o lugar dele.
Por isso no audiovisual, vamos ter os negros corda ou mágicos, eles vão fazer a vezes de negro da casa nessas mídias.

O negro doméstico tá adestrado, e cobrar o Manoel uma ação é o certo, sim. Acorda-lo, mesmo que a base de saculejo e perguntar o que mais ele espera passar pra sair dessa condição.

Porque o branco sabe reagir a isso. Faz nota de repúdio, taca representatividade e realiza mais produções com pessoas pretas como “protagonistas”. Ele até mascara isso com a inversão de papéis.
Super Shock mostra bem isso, na relação do Gear com o Super Shock.
Eles sabem bem como responder a perguntas que sutilmente surgirão das nossas cabeças, se é racismo ou não, já até toquei sobre essas repostas ali em cima.

Mas nossa ação não pode girar em torno deles, o jogo não pode partir só deles, porque é um padrão, e é um padrão simples de ser percebido porque é feito muito porcamente.
Mas pra além disso é nos mantermos em comunidade, criar nossas paradas, parar de cair em conversa pra boi dormir e discutir sobre essas pequenas “coincidências”.

Ficar em estado de alerta e constante questionamento mesmo.

Sou um negro doméstico?
Sou um negro corda?
Sou um negro mágico?
Se sou, por quê?
Ainda?

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Zezi Masomakali
revistaokoto

Pretinha, Okotoshica, filhota mais velha do KZP, a sede caçulado Okoto que fica em BH- MG.