No crédito ou débito?

Ângelo Òkòtó
revistaokoto
Published in
3 min readApr 14, 2021

Não é à toa que cartão de crédito é uma das principais ferramentas que à médio, longo e até curto prazo fode a vida financeira de quem é desorganizado. A comodidade e facilidade de utilizar uma “linha de crédito”, recursos externos, parece mais jogo do que se organizar e dar os passos que as pernas alcançam usando os próprios recursos pra essa rapaziada.

Mas irmão, tem uma parada que é pouco refletida nesse contexto que faz uma puta diferença. Pra você ter crédito em alguma organização, instituição ou com alguém, você geralmente precisa ter feito por onde antes, ter dado algum sinal de que seria vantajoso pras duas partes e assim justificar aquele crédito. Um sinal de que você é confiável, merece confiança e esse investimento em você não se torne prejuízo ou que pelo menos seja baixo, caso aconteça. Em outras palavras, quanto mais você soma, acrescenta, fortalece e passa confiança, mais crédito você tem.

Pro contrário é a mesma lógica. Se nos relacionamentos, parcerias e projetos que você tá envolvido você subtrai, diminui e enfraquece, você tá negativo. Tá no débito. Isso não quer dizer necessariamente que estar no débito é estar errado, até porque pra todo folgado tem um relaxado. Se você arruma sua cama e qualquer um vai lá e deita, quem se aproveitou e deitou tá tranquilo, você que lute, porque foi otário rs. Como sempre dizemos aqui em casa: Errado é quem leva.

A gente sempre fala por aqui também da importância da auto-determinação entre os nossos, de fortalecer organizações Pretas que passem a visão do Nacionalismo, Pan-Africanismo e Autonomia. De tirar todo o recheio negresco e trabalhar em prol do nosso Povo, da nossa luta coletiva com fundamentos Pretos. Auto-determinação é fundamental se tratando de emancipação Preta porque ela presume que o objetivo comum depende tanto do coletivo quanto do individual pras coisas fluírem. Geral tem que tá na disposição de somar.

O foda é que a mentalidade brankkka contamina vaaaarios nego e tudo acaba deixando de ser sobre nós (o coletivo) e passar a ser sobre “eu” “eu” e “eu”. Tem mó rapaziada aí que se envolve em uma pá de coisa só pra satisfazer ego, dizer que faz parte de algo e tá organizado.

Na contramão de quem não quer evoluir…

Nem sempre a intenção dos encostado é atrapalhar ou atrasar o andamento dos trabalhos, mas a conta é simples: se num barco tem 100 pessoas e só 50 remam e trabalham na manutenção do barco, os outros 50 encontrados só estão fazendo peso. É peso morto atrasando a velocidade do barco, que poderia estar navegando muito mais rápido.

Enfim, a luta Preta não precisa de pessoas que se acham super importantes e estejam ali só por estar, tá ligado? Que não botam a mão na massa e só querem fazer parte de algo por fazer, pouco se importando se pra luta aquela parceria vai ser ruim e estar gerando débito, invés de crédito.

Nossa luta precisa é de pessoas que estejam na contramão de quem não quer evoluir e participem com o objetivo de somar. Ainda que quem chegasse pra contribuir ficasse no 0 x 0, não estaria bom porque indicaria estagnação e indiferença. Empate não é vitória. O status quo que é desfavorável à autonomia e antirracismo continuaria intacto. Precisamos de excelência para ser a contrapropaganda do que é imposto pelos brankkko.

Definitivamente não precisamos de empate. O bônus tem que ser maior que o ônus pro saldo ser positivo. O Preto que se diz consciente deve fazer essa reflexão: “estou debitando ou creditando na luta dos meus?” se a resposta for negativa, para e recomeça. Seu atraso individual, atrasa o coletivo também. Faça a coisa certa.

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