O capoeira é um homem negro e o homem negro é um capoeira.

Marcos Andrade
revistaokoto
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3 min readDec 5, 2021

A saída de um capoeira em uma roda de angola não se faz de todo e qualquer modo, ela se dá por meio de um ritual, onde a bateria começa o toque com ladainha, em seguida a chula ou louvação e somente depois de dado sinal ou iniciado coro do toque corrido, tendo permissão para saída, o capoeira cumprimenta seu camará e vai mandingar.
Então peço licença a todos os homens e mulheres que antes de mim alimentam e vivem a capoeira e neles me espelho para ser e me formar capoeira também. Iê vamo nos simbora camará!

“eu pra contar minha história
Eu pra contar minha história, ó deus do céu
Não conto de uma vez
Trabalho que tenho feito
Fico muito admirado”

Capoeira não é bagunça, ela é fundamento e base pra tudo, não se chega e nem se entra desordenadamente com afobação, descuidado, metendo a cara de bobeia sem saber o que está fazendo, e por saber, justamente não vacila com sua cara, orgulho e imagem. Dela tomamos lição em múltiplos aspectos, que guiam, orientam, disciplinam, organizam, educam, animam, gracejam, malandreiam… enfim, carregam nosso axé e nos deixa preparado para quaisquer BO, qualquer encruza que apareçam pelo caminho de um homem e que se não estiver caminhando nesse mundo ardiloso e cheio de covardias como anda um capoeira, não esta caminhando como um homem negro.

Veja, tal como um capoeira, um homem africano olhará por sua segurança e a de sua comunidade. E isso vai do confronto, direto, da defesa pessoal, como também das tradições, dos ritos, da postura, da imagem, de como se é visto, do exemplo. Ele deve ter a visão de que hoje ele aprende pra amanhã ensinar e assim levar adiante sua história e o legado de seu povo.
E a capoeira é nosso legado, de nossos ancestrais, dos “guerreiros de ifá” que contêm nosso espírito, é fonte de axé que dá ânimo a vida, balanga o corpo também lhe dá tonos, tons e sonoridades.

“sou guerreiro
sou guerreiro
sou guerreiro de raça, viajo pelo mundo fazendo capoeiragem.”

A capoeira é nossa vida e defender a capoeira é defender a vida preta. Em seu papel, uma homem africano é protetor de si, sua família e sua comunidade, assim como um mestre à seus alunos, ele zela, cuida, ensina e também é zelado, cuidado e aprende. Em roda, o capoeira conduz o movimento, dá o tom do cantar, do jogar, do gingado em metáfora com a vida e da vida com capoeira de modo que o capoeira não se distingue da capoeiragem em momento algum e nesse paralelo, de mesmo modo, não alienamos um homem negro ciente de seu lugar, de sua vida comunitária.

Iê que vai fazer?
Iê que vai fazer camará.
Iê com capoeira.
Iê com capoeira camará.

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