O Hip hop é do preto. E ponto.

Talita de Oliveira Queiroz
revistaokoto
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3 min readNov 24, 2021

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Por Iza Oliveira

Você deixaria a porta da tua casa aberta pra um ladrão (que já te roubou antes) entrar, pegar teus bens, sujar o chão e ainda falaria pra ele ficar a vontade que o que está ali é dele também?

Pensando a princípio não né. Mas é o que muitas vezes nosso povo tem feito com nossos bens artísticos/culturais.

A gente já sabe do histórico do br4an.ko em chegar nos nossos lugares e querer dominar. Esse rolê é mais que antigo.

A história (passado e presente) nos mostra o quanto nossa galera é foda pra caramba artisticamente falando. Fomos nós os responsáveis pela criação dos melhores estilos musicais e manifestações artísticas/culturais que temos, seja dança, música, moda etc.

Nossa arte, na sua essência original, na sua raiz, é capaz de nos elevar emocionalmente, espiritualmente e economicamente.

O Hip hop foi mais uma das nossas criações nesse ayê que se tornou “de todo mundo”. Foi a integração com br4n.kos e suas grandes empresas de música, moda, etc que fez a gente perder nosso poder dentro da nossa casa.

Esses patrocínios de grandes artistas pretos com gravadoras marcas de roupa, geram bastante grana pros artistas, mas muuito mais grana ainda pros br4n.kos.

E isso é muito zoado pq além de enriquecer eles diretamente com esses artistas, o tipo de música a ser produzida não vai ser pra incentivar nossa autonomia. Muito pelo contrário. Muitas vezes promove sentimento de derrota onde a nossa “salvação” ta no consumismo e no estilo de vida br4n.ko.

Com a moda rola a mesma parada. É só ver que marcas que vestem os artistas de maior visibilidade dentro da cena (preciso nem citar). Isso só instiga ainda mais os pretos a consumirem dessas marcas ao invés de produzir nossas próprias.

E não são só os br4n.kos ricoes que estão se beneficiando disso.

Quais grupos de dança que tão aí a teeempos recebendo grana de editais e incentivos do governo pra promover eventos, oficinas, ter lucro pessoal etc?

Não que a gente precise de patrocínio governamental pra fazer nossas coisas, mas só pra gente ver como eles estão lucrando fazendo uso daquilo que é nosso.

Essa apropriação não ocorre só nas Américas e na Europa. Os asiáticos tb tomaram pra si com força o Hip Hop. Não atoa que muitos dançarinos pretos vão pra países deles pra trampar com isso. E a gente sabe que se eles tão dando grana pra gente é pq eles tem muito mais.

Fora a bagunça que eles deixam também (até kkkkk-pop já tão introduzindo como parte das danças da cultura hip hop). Mas é aquilo né, se é de todo mundo qualquer um pode fazer o que quiser.

A gente sabe que tem talento de sobra pra fazer tudo isso por conta própria, mas insiste no vício de continuar alimentando o inimigo com nossa comida, enquanto nosso povo tá passando fome.

O crescimento/reconhecimento pelo caminho da integração com o br4n.ko é sempre individual e nunca vai fortalecer de fato a comunidade preta.

A integração com eles só nos enfraquece.

Não tem como ter paz com quem entra na nossa casa e toca o terror.

Não tem como amar quem mata nossa cultura, nossa subjetividade e nossa espiritualidade.

Não tem como se unir com quem só subtrai da gente.

Não tem como se divertir com quem ri da nossa cara quando a gente defende que o que é nosso é nosso.

Temos que ter a paz que faz a gente ter coragem de fazer o necessário pra preservá-la, mantendo nosso poder entre nós.

Amor pelos nosso iguais.

União e compromisso com a nossa comunidade.

E se divertir, tirar uma onda com nossos irmãos pretinhos e pretinhas, que é quem de fato é capaz de nos entender e de ter aquela troca de energia que só quem é preto entende.

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