Kafunji Mahin
revistaokoto
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5 min readOct 8, 2021

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O modelador de cabeças

Awure
awure bo kun sure Àjàlá
Ojise ť ayo olori nse
Èro èro
Boa sorte!
Àjàlá abençoe nosso Ori com tranquilidade e boa sorte.
Pois sem a paz não há felicidade!

Antes que Oduduwa reunisse as 13 aldeias yorubás e fundasse Ifé, os yorubás já residiam por ali, liderados por Obatalá que chegou ali junto aos funfun para criar as criaturas que habitariam o Ayê. Dentre eles Babá Àjàlá, o modelador de Ori.

Ajalá era o oleiro responsável pela modelagem dos ori dos seres. Sua função é de extrema importância, visto que Ori é responsável por guiar o ser pelo seu odu, caminho, desde antes de seu nascimento, até depois da morte, lhe auxiliando no cumprimento de seu destino.

Ilustração: Diego Alberto

Antes de encarnar, nós vamos a casa de Àjàlá e rogamos a ele por um bom Ori. Se Ajalá está bem, ele faz bons ori, se está mau, ele faz ori com defeitos ( o que seria a causa de transtornos, loucura, má índole, etc). De toda forma, após escolhermos nosso ori na casa de Àjàlá, assumimos nosso compromisso junto à Olodumare e Orunmilá, em relação ao tempo e odu que será cumprido no ayê, com o ori escolhido.

É Àjàlá quem nos concede o odu que, mesmo com a intervenção do Orixá e ebó, não pode ser alterado. A parte que deve ser cumprida sob qualquer circunstância. Ou seja, nós escolhemos bons ou maus ori para cumprir nosso destino e não o contrário!

Diz um itã de Ifá, que 3 amigos decidiram vir ao ayê, pensando ser aqui um lugar melhor para se viver. Eles foram até aos anciãos e pediram orientação, os mais velhos disseram aos amigos que fossem até a casa de Àjàlá e que no caminho não parassem sob hipótese alguma, nem mesmo se ouvissem o pai chamar.

E os 3 amigos seguiram pra casa de Àjàlá para escolherem seus ori. No caminho encontraram Ogyan e o saudaram. Em seguida perguntaram se ele sabia onde ficava a casa de Àjàlá e Ogyan disse que primeiro o ajudassem a terminar de pilar o inhame. Eles ajudaram por 3 dias e ao final, Ogyan disse que seguissem pelo caminho até encontrar Onibodê, o guardião, que ele os diria onde fica a casa de Àjàlá.

Os 3 amigos seguiram, andaram por muito tempo, um dos amigos ouviu a voz do pai lhe chamando para guerra. Ele se armou, vestiu-se para batalha, mas os outros 2 amigos o lembraram do conselho dos anciãos e eles seguiram o caminho. Depois de mais um tempo caminhando, mais um dos amigos ouviu seu pai jogando o Opon Ifá e ficou imóvel. Os outros dois amigos exigiram que ele continuasse, mas ele se recusou até que visse seu pai , e retornou a sua casa. Os outros dois amigos prosseguiram viagem.

Quando chegou em casa, ele viu seu pai, que perguntou onde ele ia. Ele contou que ia ao ayê viver lá e então seu pai, jogou o Ifá, que respondeu que para escolher uma boa cabeça, o filho deveria fazer um ebó. Ele deveria oferecer duas bolsas de sal e doze mil cauris. Assim o filho fez, as duas bolsas e os cauris foram dados ao filho e ele seguiu viagem. Mas não encontrou os dois amigos, que já haviam ido embora.
Os dois que seguiram, ao encontrar Onibodê e perguntaram onde ficava a casa de Àjàlá. Onibodê, disse que era muito longe, não fosse até os levaria lá. Eles ficaram com raiva e foram perguntar a outras pessoas até conseguirem chegar a casa de Àjàlá.

Chegando lá, Àjàlá não estava, mas as pessoas da casa os receberam e mostraram os ori que tinha lá. O primeiro, escolheu uma cabeça feita recentemente, mas que ainda não tinha ido ao forno. O segundo amigo, escolheu, sem querer, uma cabeça defeituosa. Os dois vestiram suas cabeças e seguiram para o ayê. No caminho, pegaram uma grande chuva que destruiu as cabeças que eles tinham escolhido.

No ayê, eles trabalham muito, mas perdiam tudo o que ganhavam. Eles foram a Ifá que perguntou se eles haviam pego uma grande chuva na vinda para o aye e que essa situação se manteria por dez anos, pois tudo o que ganhavam até lá, era para reconstruir suas cabeças, que se desfizeram com a grande chuva.

O último amigo, também continuou sua viagem. Ele encontrou Onibodê que disse que o ajudaria, mas primeiro ia preparar sua comida. Enquanto o amigo acendia o fogo, notou que Onibodê temperava a comda com cinzas e lhe perguntou porque ele fazia aquilo. Onibodê explicou que sempre fez assim, então o amigo pegou o sal das duas sacolas que tinha trago com sigo, pôs na comida e deu para Onibodê provar. Onibodê ficou perplexo com aquele sabor e pediu ao amigo que lhe desse o sal. Assim ele o fez, então Onibodê o conduziu até a casa de Àjàlá, como combinado.

Chegando lá, havia um homem que gritava na porta. Era um credor que contou que Àjàlá lhe devia 12 mil cauris. O amigo então, pagou a dívida de Àjàlá e o credor foi-se embora. Ao entrar na casa, Àjàlá agradecido, quis saber quem era o homem que tinha pago sua dívida, então o amigo contou que ia ali para escolher um ori. Àjàlá pediu que ele voltasse após 3 dias.

Passado o tempo, Àjàlá lhe mostrou algumas cabeças e ajudou a escolher a melhor. O amigo a vestir e seguiu para o ayê. No caminho, pegou uma grande chuva, mas nada aconteceu a sua cabeça. Quando ele chegou ao ayê foi trabalhar no comércio e tudo o que fazia prosperava.

Os outros dois amigos, se lamentaram querendo saber onde ele havia escolhido seu ori. O amigo disse que Jô mesmo lugar que os outros dois, a única diferença era o destino.

*Ilê Ifé é conhecida pela sua arte e esculturas em argila ou bronze, de cabeças. Seu simbolismo maior é ligado ao culto à Ori. Sem um bom Ori, não há um bom destino!

*Àjàlá é o grande modelador de Orí. O responsável por modelar esse Orí e nos ajudar a fazer a melhor escolha.

*podemos interpretar a “grande chuva” na chegada ao ayê, como a bolsa de líquido amniótico que se rompe antes do nascimento e da chegada do Orí ao ayê.

* Os iniciados, aqui na diáspora, são orientados a não tomar chuva, como um dos tabus do processo de iniciação ao culto orixá. O que poderia tornar seu Ori (recém nascido) ruim.

* Orun e Ayê estão interligados! O que escolhemos lá, vivenciamos aqui.

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